As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) sempre foram um instrumento da oposição. Os governos movem mundos e fundos para evitá-las, porque sabem que elas atrapalham o funcionamento do Congresso e atrasam votações importantes. Mas, quando percebem que uma CPI vai sair, o que todos fazem é tentar se apropriar da narrativa e indicar uma tropa de choque capaz de neutralizar o discurso dos adversários.
O governo Lula errou ao insistir na estratégia de tentar impedir a CPI mista para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro. Deu margem a teorias conspiratórias que tentam inverter as responsabilidades e inocentar os vândalos que invadiram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional.
O que mais se ouvia antes do vazamento das imagens que mostram o general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), caminhando no Planalto em meio aos invasores era: “Se o governo não tem nada a temer, por que tenta impedir a CPI?”
Agora se entende por que o GSI impôs sigilo de cinco anos ao conjunto das imagens das câmeras de segurança: elas mostram que integrantes do gabinete encarregado de proteger o presidente da República trataram os vândalos de forma amigável e um deles, um major, até água ofereceu aos delinquentes que quebraram vidraças e móveis, destruíram obras de arte e produziram o caos naquela tarde de domingo.
As teorias conspiratórias segundo as quais o estrago foi produzido por esquerdistas infiltrados esbarram na realidade dos fatos, apurada pela Polícia Federal e com farta documentação em fotos em vídeos. As hordas de vândalos que destruíram o plenário do Supremo, invadiram o Congresso e deixaram suas digitais na quebradeira do Planalto chegaram à Praça dos Três Poderes predispostas a repetir o episódio do Capitólio, nos Estados Unidos — as imagens não deixam dúvida.
É fato que a ação foi facilitada porque a polícia do Distrito Federal, naquele momento sob responsabilidade do ex-ministro Anderson Torres, que assumiu a Secretaria da Segurança Pública e em seguida viajou em férias para os Estados Unidos, não fez a sua parte na segurança externa. O GSI, que deveria proteger o Planalto, fez corpo mole. O general Gonçalves Dias, que estava no Planalto, terá de explicar à Polícia Federal nas próximas horas as ações e omissões do GSI naquele dia.
Aliás
O capitão do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira, filmado distribuindo água a invasores no Palácio do Planalto, integrava a equipe de viagens do então presidente Jair Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão e foi indicado para o GSI pelo general Augusto Heleno