A situação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marco Edson Gonçalves Dias, ficou insustentável depois da divulgação das imagens em que ele aparece circulando pelo Palácio do Planalto entre os invasores na tarde dos ataques do dia 8 de janeiro. Ele pediu demissão na tarde desta quarta-feira (19). É o primeiro ministro do governo Lula a cair em pouco mais de cem dias de mandato.
Menos pelo que as cenas mostram e mais pelo contexto: Lula sabia desde aquele domingo que Gonçalves Dias, seu homem de confiança, estava no prédio. Os dois conversaram em várias ocasiões em meio à invasão.
O problema é que Lula, que governa baseado na confiança, não tolera traição. E o episódio pode caminhar nesse sentido porque o presidente teria pedido ao general, nos dias seguintes, as imagens das câmeras de segurança do Planalto, em especial as do terceiro e do quarto pisos. Coincidência ou não, as cenas em que Gonçalves Dias agora aparece estavam em uma câmera que o general teria dito a Lula que foi danificada. Como se vê, não foi.
Ainda assim, as cenas em si pouco acrescentariam de novidade não fosse o clima de desconfiança que agora paira no círculo mais próximo do presidente. Já se sabia que o general estava no Planalto, já era de conhecimento público que o efetivo do GSI era muito inferior à turba de invasores e também era notório que, com oito dias de governo, o órgão ainda era um enclave de militares indicados por Jair Bolsonaro.
Também se tinha conhecimento de que muitos agentes recuaram diante da invasão e que alguns até serviram água para os vândalos. Também por si só, as imagens de Gonçalves Dias pouco acrescentam, porque podem ser interpretadas segundo o argumento do próprio general.
Nesses quase quatro meses de investigações, ele sempre sustentou que teve de retirar as pessoas de forma ordeira, sem uso da força, para evitar maior violência em um dia já trágico. Também afirmou que a ideia era liberar o terceiro e quarto andares e concentrar a multidão no terceiro piso, para que os invasores fossem presos. E tudo isso porque considerava que suas forças estavam em minoria.
O problema é que as cenas também dão margem para se interpretar que Gonçalves Dias foi permissivo demais com os invasores. Em alguns momentos as cenas insinuam que ele apontava caminhos e abria portas internas do palácio. A mesma porta que serve para sair, serve para entrar.
Também há a sensação de que tudo pode não passar de uma tática da oposição para alavancar a comissão parlamentar mista de inquérito no Congresso (CPMI), a essa altura tida como certa. Mas o fato é que, neste momento, o benefício da dúvida está contra o governo.
A seguir, a íntegra da nota publicada pela Secretaria de Comunicação (Secom) publicada às 17h12min desta quarta-feira (19):
"A violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio.
As imagens do dia 8 de janeiro estão em poder da Polícia Federal, que tem desde então investigado e realizado prisões de acordo com ordens judiciais.
No dia 17 de fevereiro, a Polícia Federal pediu autorização para investigar militares e, a partir do dia 27 de fevereiro, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), tem realizado tais investigações, inclusive com a realização de prisões.
Dessa forma, todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI.
O governo tem tomado todas as medidas que lhe cabem na investigação do episódio.
E reafirma que todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.
A orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro."