Durou exatos sete dias úteis o sonho do dólar abaixo de R$ 5. Com alguma influência de maus resultados corporativos de gigantes globais, mas muitas incertezas sobre o marco fiscal, a moeda americana fechou em forte alta de 2,23%, enquanto a bolsa teve queda proporcional, de 2,12%.
Embora pela manhã a reação negativa tenha sido mais suave, o aprofundamento não teve relação direta com a queda do primeiro ministro do governo Lula, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Mas há impacto econômico no episódio.
Como a exoneração do general Marco Edson Gonçalves Dias tem relação com a investigação dos ataques aos três poderes em 8 de janeiro, agora a criação de uma CPI é considerada inevitável. A divisão de atenções no Congresso pode afetar a velocidade de apreciação dos projetos de interesse do governo, incluindo o projeto do marco fiscal.
Embora o mercado tenha considerado positiva a proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cálculos e projeções feitos depois da entrega do texto ao Congresso começaram a questionar as metas do novo marco fiscal. Conforme o economista Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, o projeto não será capaz de estabilizar dívida pública por ser de difícil implementação.
A principal dificuldade é a que tornou o dia de Haddad mais difícil na véspera: a concretização do aumento de arrecadação de ao menos R$ 150 bilhões. Ao entregar o texto ao Congresso, o ministro afirmou que a renúncia fiscal no Brasil já soma R$ 600 bilhões ao ano e disse que quer retirar ao menos 25% desse total.
Sem arrecadação extra, será difícil garantir déficit zero no próximo ano. A meta para 2024 é equilibrar despesas e receitas, sem contar os pagamentos relacionados à dívida pública. Outra inquietação, a longa lista de exceções ao limite de gastos, foi alvo de um esclarecimento do secretário do Tesouro, Rogério Ceron - um dos integrantes da equipe econômica que melhor dialoga com o mercado financeiro. Ceron assegurou que as despesas excluídas agora já não estavam sujeitas ao teto de gastos. Mesmo o pagamento do piso da enfermagem - uma novidade - já ficaria fora da regra atual por ser obrigação constitucional.
Esclarecimento: a coluna tem escala para usar os verbos "dispara" ou "despenca". É subjetivo, mas baseado em fatos & dados: oscilações diárias de até 3% ocorrem com certa frequência na bolsa brasileira. Acima, são raras. Por isso, os verbos mais "dramáticos", digamos, são reservados a variações acima de 3%.