Neste Dia do Exército, celebrado nesta quarta-feira (19), o presidente Lula manteve dois encontros com o passado.
O primeiro deles ao chegar ao local da cerimônia, em Brasília, o quartel-general da força terrestre, o chamado Forte Apache, em frente ao qual, até o dia 9 de janeiro, estavam acampados apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que pediam intervenção militar e não reconheciam o resultado das urnas. Foi dali que eles marcharam na véspera até a Praça dos Três Poderes.
A área também foi cenário do momento mais tenso daquele domingo, quando, após invadirem os prédios da República, os radicais foram empurrados de volta ao acampamento pela Polícia Militar do Distrito Federal (DF). Ali, o comando do Exército à época impediu a entrada dos policiais, e tropas das duas corporações ficaram frente a frente.
Integrantes do Exército informaram a Lula sobre os riscos de confronto e mortes, caso a operação para o desmonte do acampamento golpista fosse feita naquela noite. A ação acabou sendo realizada na manhã seguinte. Mais de 300 que estavam lá seguem presos nas penitenciárias do DF - e os casos de cem denunciados pela Procuradoria Geral da República (PGR) são avaliados, desde terça-feira (18), pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O outro encontro de Lula com o passado, nesta quarta-feira (19): pela primeira vez desde 2018, o presidente e o ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Bôas ficaram lado a lado, separados por alguns metros, na cerimônia no QG.
O militar publicou no Twitter, naquele ano, um post que se tornaria emblemático. Na véspera do julgamento de um habeas corpus de Lula no STF, ele afirmou. "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", questionou o general à época. "Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", completou Villas Bôas.
O tuíte, avaliado como pressão sobre a Suprema Corte, é visto por historiadores e outros pesquisadores como um ponto de inflexão nas relações entre civis e militares e o momento em que o Exército rompeu, pela primeira vez desde o fim da ditadura, com seu distanciamento da política.
Hoje, sob o comando do general Tomás Paiva, o Exército vem buscando recuperar a imagem de uma corporação de Estado, apartidária e que respeita as instituições. Aliás, esse foi o tom do discurso do comandante.
- O Exército imortal de Caxias, instituição de Estado, apolítica, apartidária, imparcial e coesa, integrada à sociedade e em permanente estado de prontidão, completa 375 anos de história - disse o general no texto lido e retransmitido, internamente, a todos os mais de 200 mil militares e declamado nos batalhões ao longo do dia.
Sobre Lula e Villas Bôas, no evento em Brasília, eles não interagiram. O general tem Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Apesar da situação, ele se mantém consciente e se comunica pelo piscar dos olhos.