Nem todos os ministros do presidente Lula haviam assumido seus cargos no dia 8 de janeiro, quando o Brasil foi sacudido pela violência dos atos de depredação do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Lula, que até ali estivera envolvido nos contatos com os estrangeiros que vieram para a posse e em reuniões com os ministros do núcleo duro estava em Araraquara (SP) quando a confusão começou. De lá mesmo, decretou intervenção na segurança do Distrito Federal, nomeou um interventor e retornou a Brasília. A segunda semana de governo limitou-se a contornar a crise, que resultaria na substituição do comandante do Exército, general Júlio César Arruda, por Tomás Miguel Ribeiro Paiva, no dia 21, por quebra de confiança.
A invasão dos prédios dos três poderes produziu uma aliança em defesa da democracia, unindo Executivo, Legislativo, Judiciário, governadores e entidades da sociedade civil. No dia seguinte, todos os governadores foram a Brasília e acompanharam Lula até as ruínas do plenário do STF, devastado pelos radicais. Os atos terroristas acabaram sugando a pauta do governo e até atrasando a posse dos últimos ministros.
Das ações do governo neste primeiro mês, nenhuma chamou mais atenção do que o atendimento aos indígenas da Terra Yanomami, que vivem uma tragédia humanitária, com crianças morrendo de fome e doenças evitáveis. A ministra Nísia Trindade decretou emergência em saúde na reserva e Lula foi a Roraima, acompanhado de ministros, para marcar o compromisso de resolver o problema dos indígenas. Imagens de adultos e crianças esquálidos correram o mundo, enquanto começava um mutirão para levar comida, remédios e profissionais de saúde. Como boa parte dos problemas é consequência do garimpo ilegal, o governo fechou o espaço aéreo, aumentou a vigilância na região e se comprometeu a expulsar os garimpeiros da terra indígena.
Em Brasília, Lula reuniu novamente os 27 governadores para garantir que nenhum será discriminado e que o pacto federativo será respeitado. O pedido era para que cada um indicasse três obras federais prioritárias de seu Estado, o que os governadores fizeram, mas alguns, puxados por Eduardo Leite, insistiram que a prioridade era a compensação pelas perdas de receita com a redução do ICMS de combustíveis, imposta no ano passado. Mesmo prevista em portaria, a promessa do então ministro Paulo Guedes de compensar as perdas não foi cumprida. Só o Rio Grande do Sul estima uma redução de R$ 5,7 bilhões no orçamento.
Lula também retomou os contatos interrompidos pelo antecessor com os presidentes do Mercosul e anunciou que o Brasil estava de volta ao cenário internacional. Visitou a Argentina e o Uruguai, reabriu a embaixada na Venezuela, recebeu o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz e prepara uma viagem aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente Joe Biden.
Os maiores problemas do primeiro mês se concentraram na economia, mais por falas inconvenientes do que por medidas concretas. Lula atacou o mercado e se insurgiu mais de uma vez contra a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso e que dificilmente será revista, mesmo que ele queira.
Não é hora de falar em reeleição
Mal completou um mês de governo e o presidente Lula já está falando em reeleição. Não como uma certeza, mas como uma possibilidade, se estiver com saúde em 2026, conforme disse em entrevista à RedeTV!.
Ora, o momento é de colocar o pé no chão e trabalhar. O Brasil tem problemas demais para o presidente — ainda que tenha sido provocado por um jornalista — falar em reeleição, dando a entender que só ele é capaz de evitar um retrocesso.
O nome disso é soberba.
Ritmo lento
Passou praticamente em branco o primeiro mês do segundo governo de Eduardo Leite. Por se tratar de uma administração de continuidade, todas as ações seguem o que foi definido ainda em 2021 no Programa Avançar. Com exceção da Secretaria de Transportes, pouco se viu nestes primeiros dias, até porque alguns secretários tomaram posse ao longo do mês e um deles (Danrlei de Deus, do Esporte) ainda não assumiu.
Leite se dividiu entre os compromissos de governo e a presidência nacional do PSDB. Esteve no Fórum Econômico Mundial, em Davos, e viajou algumas vezes para Brasília e São Paulo.
Nenhum projeto foi encaminhado à Assembleia Legislativa até aqui. O mais importante deles, o que trata da adequação do plano de carreira dos professores ao novo piso nacional do magistério, ainda está sendo estudado pelos técnicos das secretarias de Fazenda, Planejamento, Educação, Casa Civil e Governança.