Filiado ao Republicanos e confirmado como pré-candidato ao Senado, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse nesta sexta-feira (18), em Porto Alegre, que não sente mágoa por ter sido preterido na escolha do companheiro de chapa do presidente Jair Bolsonaro na próxima eleição.
— Há males que vêm para bem — afirmou Mourão com um esboço de sorriso, em entrevista exclusiva, depois de fazer uma visita institucional à direção do Grupo RBS.
O general, que há um mês, na Festa da Uva, afirmou que as demandas dos produtores rurais afetados pela estiagem estavam na primeira página do caderno de encargos do governo, garantiu que serão liberados R$ 2 bilhões nos próximos dias. Não quis cravar a data nem os detalhes, com o argumento de que vai deixar para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Confira a íntegra da entrevista
Gostaria de falar com o senhor sobre um assunto que conversamos há um mês, na Festa da Uva. O senhor tinha dito que as demandas dos produtores rurais do RS atingindos pela estiagem estavam "na primeira página" do ministro Paulo Guedes, mas nada foi anunciado até o momento. O senhor tem alguma boa notícia para os produtores do RS?
Temos, pois serão R$ 2 bilhões que estarão sendo liberados para o auxílio para os nossos produtores que foram atingidos por essa estiagem. Esse recurso foi, vamos dizer assim, reorganizado dentro do orçamento e de forma que esses nossos produtores possam recuperar parte das suas perdas.
E esse dinheiro chega quando ao produtor rural?
Pois então, vou deixar para que a ministra Tereza Cristina anuncie isso (risos). A situação dos produtores aqui foi bem complicada, na questão da soja, do milho, do arroz. A estimativa de perda dos 14,5 milhões de toneladas da nossa safra é algo bem contundente. Mas eu julgo que até na semana que vem, não posso afirmar com certeza, mas talvez até semana que vem já estará na mão do pessoal.
O senhor já está filiado ao Republicanos e pré-candidato ao Senado. O que o levou a ser candidato ao Senado pelo RS?
Ou terminava esse mandato, e me recolher para iniciativa privada (...), ou então continuar no jogo político no intuito de trabalhar pelo país
HAMILTON MOURÃO
sobre o seu projeto político
Quando o presidente Bolsonaro demonstrou que iria escolher outra pessoa nesse projeto de reeleição, eu tinha duas opções iniciais: ou terminava esse mandato, e me recolher para iniciativa privada e tratar da minha vida, ou então continuar no jogo político no intuito de trabalhar pelo país. Ao decidir por isso, eu decidi trabalhar pelo meu Estado natal, pelo RS, onde eu me identifico plenamente. Morei grande parte da minha vida aqui, meus grandes amigos moram aqui, conheço o Estado de ponta a ponta. Então eu olhei e disse assim "olha, vou submeter o meu nome a apreciação do povo gaúcho no sentido de representar no Senado Federal".
E quais vão ser as suas bandeiras no Senado?
Olha, é trabalhar para apoiar a busca de soluções que o nosso Estado precisa para superar essa situação que estamos enfrentando. O que nós temos? Você falou logo no começo na questão da estiagem, então nós temos que buscar alterações na legislação para que a gente consiga reter a água que cai aqui no RS. Nós temos um grande número de açudes, de modo que facilite a irrigação, além de uma metodologia mais moderna de irrigação. Também a questão da infraestrutura no Estado, buscar os recursos para os projetos necessários para duplicação da 290 (BR-290). Esse é um assunto aí que está na primeira página do que nós precisamos, pois é uma artéria que atravessa o Estado de ponta a ponta. Também tem a questão educacional, pois nós temos um "gap" educacional no Brasil, inclusive no RS, apesar de aqui os índices serem um pouquinho melhores, mas esse "gap" leva à evasão escolar, uma parcela dos nossos jovens termina o colégio sem entender o que está lendo, então temos bastante espaço para trabalhar pelo nosso Estado.
Ainda como vice-presidente, o senhor pode dar uma "forcinha" para obras que estão paradas, como o acesso para a nova ponte do Guaíba, que foi concluída a parte onde se passa o vão da ponte, mas ainda tem acessos que não ficaram prontos. O senhor ainda vai trabalhar nisso antes de deixar o governo, prevê alguma possibilidade ou só teremos quando a 290 entrar em uma concessão para ser transferida para a iniciativa privada?
Olha, o ministro Tarcísio, que também vai se descompatibilizar, mas acredito que o substituto acredito que seja o executivo do ministério, ele está sintonizado com algumas entregas. Na semana que vem ele deve entregar o aeroporto de Passo Fundo, que já está sendo esperado há muito tempo. A questão do contorno de Pelotas, que é outra obra que vai ser entregue, então nós vamos continuar martelando. Eu até conversei com o diretor do Dnit essa semana. Então nós estamos atentos e toda vez que eu recebo demandas do nosso Estado, seja das pessoas, prefeituras, ou políticos, que sejam senadores ou deputados federais, a gente procura atender essas demandas.
O senhor tem alguma frustração por não poder continuar como vice-presidente na tentativa de reeleição do presidente Bolsonaro?
Não te digo que eu tenha uma frustração, pois há males que vem para bem. Então talvez isso me levou a buscar uma carreira independente, tive a felicidade de ser acolhido pelo Republicanos e eu tenho gostado muito de uma frase do Churchil: "Na política, como na guerra, a gente alcança uma elevação, a gente tem que buscar a seguinte, pois se a gente ficar no vale, vamos ser destruídos". Por isso que estou buscando uma nova elevação que é buscar representar o RS no Senado.
Nós temos que tentar juntar todo mundo de modo que a gente chegue na eleição forte para conquistar o governo do Estado
HAMILTON MOURÃO
se referindo ao processo eleitoral para o governo gaúcho
Hoje Republicanos é muito disputado por dois candidatos que são aliados do governo, o senador Luiz Carlos Heinze (PP) e o ministro Onyx Lorenzoni. Para qual lado vai o Republicanos?
Essa é a pergunta de US$ 10 milhões (risos). Nós estamos conversando com os dois, é uma aproximação que está sendo feita e é o partido que vai ditar regra. É óbvio que o partido vai ouvir a minha posição. Hoje não é simples a gente definir, pois são dois candidatos que pertencem ao nosso grupo, com excelente potencial, eu vejo que nós temos que tentar juntar todo mundo de modo que a gente chegue na eleição forte para conquistar o governo do Estado.
O tem a expectativa que um dos dois desista e que se forme uma chapa só?
Seria o melhor, na minha opinião, que os dois se unissem em prol de um objetivo em comum.
E se dependesse de sua preferência, qual dos dois seria candidato a governador?
Eu não posso dizer nada sobre isso no momento, pois seria leviano da minha parte.
O senhor foi alvo de uma aparente má interpretação de uma declaração sobre a eleição presidencial, dizendo que se o ex-presidente Lula ganhar a eleição, não haveria nenhum problema e que as Forças Armadas não criariam nenhum empecilho para a posse. Pelo menos foi assim que eu entendi. Mas foi interpretada como se o senhor estivesse "abrindo as portas do Exército para o presidente Lula". Queria dar a oportunidade para o senhor esclarecer para que não deixem dúvidas sobre o seu pensamento e o pensamento das forças armadas em relação a eleição.
É aquela história de que a interpretação vai por um caminho que você não esperava. Você colocou a colocação de forma extremamente assertiva, mas ela acabou se transformando dessa forma. Por isso até que eu tive que fazer um tuíte para esclarecer como eu estava vendo as coisas. O que acontece é que ao longo dos últimos 37 anos as Forças Armadas não se meteram na política. Quando você analisa a história do Brasil, você vai ver que a República foi uma sucessão de pequenas intervenções até desaguar no movimento de 64, que foi ápice, o ponto final desse processo intervencionista que as Forças Armadas tiveram em diversos momentos da história do nosso país, independente se estava certo ou errado, não vou colocar juízo de valor nisso. De lá para cá, as forças saíram da política e se mantém em sua missão constitucional, já tivemos a eleição do ex-presidente Lula, continuou o barco a navegar da mesma forma como antes. Assim como teve a ex-presidente Dilma e vai seguir acontecendo normal, independente de quem vencer a eleição.
O senhor vai para uma eleição que o voto será eletrônico. O senhor confia na urna eletrônica, o sistema brasileiro de votação?
Volta e meia aparecem alguns indícios de que poderia ter ocorrido algum tipo de fraude. Pelo que dá o meu conhecer, até hoje eu não tenho nenhuma dúvida a respeito desse processo de votação. Há muito falatório e, na minha visão, se houvesse um processo fraudulento, esse segredo não poderia ser mantido por tanto tempo. Em algum momento ele teria que vir com tudo até mesmo pelo trabalho que vocês da imprensa fazem. Acho que não ficaria tanto tempo sem aparecer nada.