Os supersticiosos dirão que há um sapo enterrado no Ministério da Educação. Os governistas fanáticos, que a mídia derrubou o ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva. A oposição ao governo de Jair Bolsonaro resumirá o enredo afirmando que ele é inepto para montar uma equipe. A narrativa de quem não se enquadra nas bolhas acima é mais complexa. Bolsonaro errou na largada, desprezando as opções qualificadas por ranço ideológico, e seguiu errando nas escolhas porque não tem projeto para a educação.
Depois do confuso Ricardo Vélez Rodriguez e do caótico Abraham Weintraub, parecia que, finalmente, o Ministério da Educação teria um titular capaz de pacificar a área e consertar os estragos deixados pelo antecessor. Decotelli chegou prometendo diálogo e se dizendo sem paciência para os embates ideológicos.
Homem de bons modos e português correto, parecia ser a pessoa certa na hora certa para acalmar as universidades, encaminhar o futuro do Fundeb, discutir os rumos da educação durante e depois da pandemia e, finalmente, tratar da Base Nacional Curricular com maturidade. Parecia, mas não era. O currículo sólido se desmanchou no ar logo ao primeiro sopro.
Primeiro ruiu o título de doutor pela Universidade Nacional de Rosário, que o agora ex-ministro não tinha. Depois veio a acusação de plágio na dissertação de mestrado na Fundação Getulio Vargas. Por fim, a confirmação de que o pós-doutorado da universidade alemã de Wuppertal não passava de miragem.
Confrontado com a falsidade ideológica contida no seu currículo, Decotelli ficou sem chão. A cerimônia de posse foi suspensa, Bolsonaro deu uma resposta evasiva na segunda-feira (28), quando Decotelli disse que continuava ministro, e o pedido de demissão veio nesta terça (30). Com cinco dias no cargo, o professor bateu o recorde de curta permanência, que era do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich (29 dias), e caiu antes da cerimônia de posse, embora estivesse nomeado desde 25 de junho e despachasse no Ministério da Educação.
Falhou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que não checou as credenciais do ministro antes do anúncio de seu nome. Deveria ser praxe uma investigação sobre a vida pregressa de qualquer candidato a ministro, seja civil ou militar, independentemente de quem tenha sido o padrinho. Decotelli foi bancado pelo general Augusto Heleno, que como chefe do Gabinete de Segurança Institucional poderia ter poupado o presidente da República de mais um desgaste.
Para todos os efeitos, Decoteli caiu porque enfeitou o currículo com títulos que não tinha. Mas há um ponto com maior potencial para elevar a temperatura da frigideira: licitação para a compra de microcomputadores, suspensa quando a Controladoria-Geral da União detectou que estava eivada de irregularidades.
Decotelli era quem comandava o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e não deu uma explicação satisfatória para o episódio. Limitou-se a dizer que foi a parceria com a CGU que permitiu cancelar o edital, mas ninguém foi responsabilizado pela fraude abortada.