Herdeiro de um cenário de terra arrasada no Ministério da Educação, o ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva terá como tarefa inicial desarmar os conflitos inflados pelo antecessor, Abraham Weintraub. Diálogo e estudo foram as palavras sublinhadas pelo professor Decotelli na entrevista ao Gaúcha Atualidade, nesta sexta-feira (26).
Trata-se de um começo promissor para uma área que nos últimos 18 meses foi minada pelo debate ideológico estéril, influenciado pelo ex-astrólogo Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo.
— Diálogo, gestão, integração e visita. Eu quero visitar as universidades e conversar, ponderar, criar (...) Conte comigo para dialogar, buscar o contraditório. Eu sou do ambiente de pesquisa, educação e ambiente acadêmico. Sala de aula é minha forma de ser, é minha forma de convicção pessoal. Eu irei às universidades, elas virão até mim. Vamos buscar resultados quantificáveis — disse.
Decotelli começa chamando para uma reunião virtual com os secretários da Educação, com quem quer conversar sobre a situação do ensino na pandemia e sobre os planos para a saída. Sem fórmulas prontas, responde que vai estudar para identificar os problemas e apontar soluções. E pede para ser cobrado nos próximos dias.
Único negro no primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro e primeiro a comandar o Ministério da Educação, dá uma resposta direta quando o assunto é a guerra ideológica travada por seu antecessor:
— Eu sou da ala técnica, acadêmica. Eu não tenho preparo para fazer idiossincrasias ideológicas. (...) Eu sou gestor. Enquanto eu estiver na estrutura operacional, esse é o meu projeto. Eu não tenho condições de fazer além disso.
Oficial da reserva da Marinha, Decotelli é um homem querido pelos alunos que passaram por suas classes, seja na Fundação Getulio Vargas, seja na PUCRS, onde é professor visitante. Deixou boas lembranças também entre os executivos do Banrisul, para quem deu aulas em Porto Alegre e no Interior.
Por esses contatos, define-se como um "cariúcho" e usa o verso "não tá morto quem luta e quem peleia" como uma espécie de mantra para enfrentar o emaranhado de nós que terá de desatar no MEC. Nos mais de 30 minutos da entrevista, mostrou-se um homem de comunicação fluida, com humildade para dizer que ainda não sabe como melhorar os índices deploráveis da educação brasileira.
Em relação à pesquisa nas universidades, deu uma resposta que pode provocar desconforto no meio acadêmico, mas que faz todo sentido: é preciso revisão permanente do que se produz. O ministro não disse com essas palavras, mas deu a entender que, com recursos escassos, as universidades terão de ser seletivas na escolha dos projetos que receberão verbas.
Mesmo não sendo da área de educação — sua formação é em Economia — tem todas as condições de consertar os estragos deixados por Weintraub, desde que não seja boicotado pelo presidente ou por seus filhos.
O ministro foi questionado sobre a polêmica licitação para a compra de notebooks, suspensa diante a constatação de que havia irregularidades, quando presidiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Disse que foi a parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU) que permitiu detectar os problemas e suspender a concorrência.