Com a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação, dada como certa desde o início da semana e confirmada nesta quinta-feira (18), o governo de Jair Bolsonaro perde o ministro mais caricato dos seus ministros, um zero à esquerda que só criou confusão em 14 meses no cargo. As encrencas de Weintraub não se limitaram ao território da Educação, onde entrou para ser o gestor que seu antecessor, Ricardo Vélez Rodríguez, não era.
Weintraub arranjou uma briga diplomática com a China, mas perdeu as condições de continuar no cargo depois do último domingo, quando participou de uma manifestação antidemocrática e reforçou os ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Repetiu o que dissera na reunião de 22 de abril, quando chamou os ministros de vagabundos.
Bolsonaro demorou a consumar a demissão para não ficar mal com os filhos e com a ala que segue a cartilha de Olavo de Carvalho, ex-astrólogo que se intitula filósofo e aplica o carimbo de comunista em tudo o que se mova do centro para a esquerda do espectro ideológico. Queria antes encontrar um cargo para acomodar Weintraub.
A primeira cogitação foi de um posto diplomático em Portugal. O problema é que teria de ser um cargo que não dependesse de aprovação do Senado, onde o ministro provavelmente seria reprovado. Os funcionários de carreira do Itamaraty reagiram contra a possível indicação e o governo mudou o foco. O destino do agora ex-ministro será uma diretoria do Banco Mundial, em Washington, apesar de ser um antiglobalista juramentado.
Em Lisboa, o jornal Diário de Notícias publicou extensa reportagem nesta quarta-feira (17) com o título “Pior ministro de Bolsonaro pode estar a caminho de cargo em Portugal”. O texto alinha todas as gafes cometidas por Weintraub, incluindo os erros de português cometidos em postagens nas redes sociais e até em documentos oficiais.
No Ministério da Educação, o legado de Weintraub pode ser resumido com a mesma palavra que ele escolheu para definir o que via nas universidades federais: balbúrdia. Pela ótica enviesada do quase ex-ministro, todos os problemas da educação no Brasil devem ser debitados a Paulo Freire, cuja obra ele aparentemente só conhece por ouvir falar.
Quando Vélez caiu, imaginava-se que era impossível encontrar um sucessor pior. Weintraub provou que nada é tão ruim que não possa piorar. A expectativa agora é saber se Bolsonaro enfim indicará para a Educação um ministro que entenda do assunto ou seguirá na mesma trilha obscurantista que despreza o conhecimento, desdenha da produção científica e trata a guerra à ideologia de gênero como preocupação número 1 de um ministério que deveria ser estratégico.