Após encontro com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, negou que tenha cometido plágio em dissertação de mestrado e disse que continua à frente do cargo. Mesmo com a declaração do ministro, o presidente teria pedido nesta segunda-feira (29) a deputados e assessores indicações de nomes para substituir Decotelli.
— Eu sou ministro e tenho trabalhado. Agora, vou ficar até a noite para corrigir ajustes no Sisu e no Enem — disse Decotelli no início da noite desta segunda.
Em entrevista, na frente do Ministério da Educação, ele relatou que o presidente pediu esclarecimentos sobre informações equivocadas em seu currículo e discutiu novos programas da pasta. Irritado com as revelações, o presidente passou a avaliar desde a tarde desta segunda uma troca na direção da pasta.
Durante a manhã, após a suspensão da cerimônia de posse, a cúpula militar ainda tentava reverter uma demissão do novo ministro. Aliados do presidente, próximos do ex-ministro Abraham Weintraub, entraram em contato com Bolsonaro para convencê-lo a indicar outro nome para o ministério.
A pressão foi reforçada por deputados bolsonaristas, aliados dos filhos do presidente, que sugeriram que ele faça uma nova rodada de sondagens. Com a decisão de Bolsonaro, parcela do núcleo militar, que apadrinhou a nomeação de Decotelli, desistiu de insistir em sua permanência no cargo.
Para evitar que o grupo de Weintraub emplaque o novo ministro, no entanto, militares palacianos passaram a articular um nome alternativo. Para o lugar de Decotelli, a cúpula militar passou a sugerir o professor Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Já o grupo radical voltou a defender os nomes do secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito Aguiar. O primeiro chegou ao cargo por indicação do escritor Olavo de Carvalho, guru dos filhos do presidente. O segundo tem forte respaldo da bancada evangélica, um dos pilares de sustentação do governo.
Apesar de já ter pedido sugestões, o presidente teria sinalizado que só irá oficializar uma troca quando for concluído um pente-fino feito pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no currículo de Decotelli. A nomeação de Decotelli foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na quinta-feira (25), após anúncio feito pelo presidente. O governo planejava uma solenidade de posse nesta terça-feira (30), mas a realização do evento foi adiada.
Constava no currículo de Decotelli um doutorado pela Universidade Nacional de Rosario, da Argentina, mas o próprio reitor da instituição, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título. Além disso, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, informou que o novo ministro não possui título da instituição, ao contrário do que constava em seu currículo, que mencionava um curso de pós-doutorado.
O Ministério Público entrou, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), com representação pedindo apuração do órgão de possíveis prejuízos ao erário da nomeação do novo ministro.
A assessoria de imprensa do MEC disse na sexta-feira (26) que Decotelli concluiu os créditos das disciplinas necessárias para a obtenção do título de doutor na Universidade Nacional de Rosário. Ele também negou as acusações de que teria cometido plágio em sua dissertação de mestrado e afirmou que revisará o trabalho.
"Em nenhum momento a Secom confirmou o evento à imprensa e, até agora, não há previsão para essa cerimônia", afirmou nesta segunda-feira (29) o Planalto sobre a posse do novo ministro.