O afastamento do prefeito de Viamão, André Pacheco (ex-PSDB), e dos secretários que formavam o núcleo duro do seu gabinete não é um fato isolado. O Ministério Público mostrou que sabe trabalhar em silêncio e só deflagrar a operação quando todas as pontas estão amarradas. Esse método permite que os envolvidos em falcatruas sigam agindo mesmo quando já estão sob investigação e acabem fornecendo provas cruciais para a denúncia, obtidas, em geral, nas quebras de sigilo autorizada pela Justiça.
O modus operandi nas prefeituras que foram alvo de operações até aqui, como Santana do Livramento, Bagé e Viamão, é parecido. Licitações viciadas para favorecer amigos, contratos superfaturados, contratação de empresas que não preenchem os requisitos mínimos para assumir determinados serviços.
O cálculo do Ministério Público é de que em Viamão foram desviados pelo menos R$ 10 milhões. Em qualquer município do Rio Grande do Sul, R$ 10 milhões é muito dinheiro. Para uma cidade como Viamão, com serviços públicos precários em diferentes áreas, é uma fortuna. Imagine-se, por exemplo, um acréscimo de R$ 10 milhões na saúde ou no fomento à agricultura familiar, que é um dos motores da economia do município.
Se o prefeito é culpado ou inocente, a Justiça vai decidir, com base nos autos. Por ora, o que se tem é a operação do Ministério Público, que aponta uma série de irregularidades, e a decisão judicial que mandou afastar o prefeito, cinco secretários e um vereador que, aliás, é dono de uma empresa que presta serviços à prefeitura.
Como não foi julgado, do ponto de vista legal, o prefeito de Viamão poderia concorrer à reeleição. Politicamente, no entanto, não há essa hipótese. Eleito pelo PSDB, André Pacheco se desfiliou há um ano e está sem partido. Para concorrer, terá de se filiar até seis meses antes da eleição. Quem iria aceitá-lo nestas circunstâncias?
O presidente estadual do PSDB, Mateus Wesp, divulgou nota dizendo que os integrantes da executiva estadual "lamentam os fatos amplamente divulgados na imprensa, envolvendo o prefeito, e aproveita a oportunidade para reforçar o compromisso com a transparência e a probidade administrativa na gestão dos serviços públicos".
A nota diz que o PSDB apoia integralmente a investigação promovida pelo Ministério Público e tem "a convicção de que, caso se confirme as suspeitas de irregularidades em contratos de prestação de serviços para a prefeitura de Viamão, os responsáveis devem ser punidos".