Silente ao longo do fim de semana em que se multiplicaram as manifestações de pesar e de protesto pela morte da menina Ágatha Félix, de oito anos, o governador do Rio, Wilson Witzel, saiu da toca nesta segunda-feira (23) para fazer uma manifestação reveladora do seu tamanho como figura pública.
Em vez de reconhecer que sua política de segurança tem problemas, reiterou a convicção de que está certo, mesmo que Ágatha tenha sido morta com um tiro de fuzil, dado pelas costas, e que a Polícia do Rio de Janeiro seja a que mais mata e a que mais morre.
Witzel disse que é “indecente usar caixão como palanque”. De fato, é. Mas, ao contrário do que imagina o governador com síndrome de cowboy, lamentar a morte de uma criança – e das outras que precederam Ágatha – não é usar o caixão como palanque. É questionar uma política de segurança que aceita a morte de inocentes como efeito colateral do enfrentamento ao crime.
Faltou ao governador fazer a necessária autocrítica. Porque não foi outra coisa o que ele fez quando desceu de helicóptero na ponte Rio-Niterói e comemorou, dando pulinhos, a eliminação do homem que sequestrara um ônibus e ameaçara queimar os passageiros. Witzel aproveitou o episódio para posar de herói.
A morte de Ágatha ocorreu em meio à discussão sobre o excludente de ilicitude, previsto no pacote anticrime do ministro Sergio Moro. Ainda que os defensores da ideia garantam que a redução de pena não se aplica a casos como esse, é legítimo que o Congresso resista em dar uma licença para matar.
Porque mesmo o policial que dispara contra uma criança poderá alegar que agiu movido por “surpresa, medo ou violenta emoção”.
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