Aos gritos de "justiça" e protestos contra o governador Wilson Witzel, a menina Ágatha Félix, oito anos, foi enterrada neste domingo (22). Ela foi baleada na sexta (20) à noite, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, quando voltava para casa com a mãe.
Em clima de revolta e grande comoção, o enterro foi acompanhado por familiares e moradores do complexo.
— Vamos ver até quando esse governo vai acabar com as famílias, vai acabar com o futuro promissor das nossas crianças — disse o avô de Ágatha, Ailton Félix.
Carregando balões amarelos, em referência a uma fotografia de Ágatha, moradores faziam críticas às operações policiais na comunidade. Carregavam uma faixa escrita "parem de nos matar".
— Somos moradores e não temos culpa dessa política de segurança que não funciona na comunidade, que tem tirado mais vidas do que preservado. Reconhecer o erro não é vergonha. Vergonha é insistir no erro. De que adianta matar um bandido e dez pessoas do bem? Eles têm que ter esse entendimento para raciocinar — discursou o mototaxista Marcos Henrique Nascimento Lopes, 39, cobrando mudanças na polícia de segurança.
Pai de uma menina de oito anos, mesma idade de Ágatha, ele disse que o protesto é pelo fim dos tiroteios.
— Ela fica desesperada quando tem operação na comunidade. É muito tiro, parece que tem tiro dentro de casa.
Marilene dos Santos Carvalho Valadares, 56, disse que as crianças perderam a liberdade de ir e vir dentro da comunidade.
— Estão matando nossas crianças. Eu tenho um neto de dez anos e nem sei o que faria se acontecesse isso com ele. Acho que vou para aquele buraco junto com ele.
A manifestação contou com apoio de moradores de outras regiões da cidade, como o ator Fábio Assunção.
— Não dá para ir mais para baixo do que isso. A sociedade tem que se posicionar — defendeu.
Representante da comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, o advogado Rodrigo Mondego reclamou do posicionamento do governo estadual no caso — a Polícia Militar disse que houve confronto no momento em que Ágatha foi baleada, mas parentes negam.
— Existe um corporativismo muito grande, que nega o óbvio. As pessoas dizem que foi um tiro, mas eles negam categoricamente o que as testemunhas viram — afirmou.
A Polícia Militar diz que reagiu a ataque de criminosos e houve troca de tiros. Moradores e familiares, porém, questionam a versão e dizem que a polícia disparou na direção de uma moto que passava perto da kombi onde ela estava.
Quando o corpo deixou a capela do velório, os presentes gritavam "Justiça" e "Witzel é assassino". Os mototaxistas fizeram um buzinações. Precedido por faixas contra a violência, o cortejo andou por 500 metros até o cemitério de Inhaúma.
— Ela está agora no céu, que é o lugar que ela merece — dizia o avô, que seguiu o carro funerário abraçado a parentes e amigos.
— O mundo está vendo o que aconteceu com a minha neta — protestou.