Em entrevista coletiva no início da tarde desta segunda-feira (23), o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), fez o primeiro pronunciamento após a morte de Ágatha Vitória Félix, oito anos, assassinada no Complexo do Alemão na noite de sexta-feira (20). Durante o final de semana, o governador foi alvo de protestos de moradores da comunidade, que reclamaram da violência policial nas favelas. Ágatha foi a 16ª criança baleada nas favelas do Rio de Janeiro em 2019 (a 5ª que morreu), e sua família alega que o tiro que vitimou a menina teria partido de policiais.
Witzel defendeu a ação policial e criticou deputados da oposição, que, na sua opinião, se manifestam de maneira "antidemocrática" após o episódio.
— A morte de inocentes não pode virar palanque eleitoral — afirmou.
Ao citar atendimentos do governo estadual, Witzel disse que sua gestão prefere trabalhar em silêncio para assistir as vítimas.
— Pedi a ela: "Major Fabiana (secretária de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência), não transforme em palanque político o caixão de vítima da violência". E principalmente para evitar que isso aconteça, criamos essa secretaria. Para dar esse atendimento e evitar que sejam utilizados os caixões como palanque. É indecente usar um caixão como palanque, especialmente de uma criança.
Em 20 de agosto, quando o sequestrador de um ônibus na ponte Rio-Niterói foi morto pela polícia, Witzel desceu de helicóptero no local do crime, comemorou a ação policial com um soco no ar e deu um discurso afirmando que os PMs seriam promovidos.
Mudanças nas versões
A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) divulgou diferentes versões sobre o ocorrido desde sexta-feira. Inicialmente, pelo Twitter, a corporação afirmou que houve um confronto entre criminosos e policiais, no qual a equipe "revidou uma agressão". Depois, com a repercussão e o depoimento de testemunhas que afirmaram que Ágatha teria sido baleada pelas costas dentro de uma Kombi, a PMERJ mudou o pronunciamento:
"A difícil realidade vivida pela população das comunidades e enfrentada por nossos policiais, diariamente, nos faz profundamente solidários a dor e o sofrimento sentidos pela morte da pequena Ágatha. Ela foi ferida ontem quando criminosos atacaram covardemente policiais da UPP", afirmou a polícia.
O comandante Rogério Figueiredo, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, reiterou a versão do confronto na entrevista coletiva e afirmou que a morte de Ágatha foi um "caso isolado". Ele também afirmou que foi aberto um inquérito policial militar e que a perícia, assim como os depoimentos, vão "ajudar a esclarecer os fatos".
Defesa do excludente de ilicitude
Logo depois, o governador Wilson Witzel corroborou a versão e voltou a defender o "excludente de ilicitude", projeto que integra o pacote anticrime de Sergio Moro, ministro da Justiça, e que é uma das bandeiras de campanha do presidente da República Jair Bolsonaro. O projeto dificulta a punição a policiais que matam em serviço. Ele afirmou que conversou com Moro durante o fim de semana Witzel também culpou o tráfico e os usuários de drogas pela morte da criança e voltou a defender a política de segurança de seu governo.
— Em momento algum tenho tido discurso brando com quem quer que seja. Eu não tenho bandido de estimação, seja de distintivo, seja de farda. A lei é para todos.
Em outro momento da entrevista, voltou a negar ter algum tipo de seletividade.
— Dizer que nós aqui estamos protegendo quem quer que seja, desculpe, por que nós aqui não temos bandido de estimação.
O governador afirmou que todas as investigações estão em andamento por parte da polícia do Rio.
— Não há nenhuma investigação parada. A respeito do depoimento das armas, depoimento de policiais, tenho certeza que o delegado da homicídios está tratando como deve ser tratado. Lamento profundamente a perda, o meu sentimento é o sentimento de pai, tenho filha de nove anos.
Disse ainda sentir pela mãe que não vai ver mais a filha.
— Você acha que não penso? Eu não sou um desalmado, sou um cara de sentimentos.
Apesar de lamentar, Witzel afirmou que a morte não é motivo de "parar o Estado".
— O Estado tem que continuar, eles têm que ter força para trabalhar, todos têm que ter força para trabalhar.