Se a pandemia de coronavírus expôs a subordinação de cadeias produtivas globais que passam pela China, em casos como as disputas por vacinas, EPIs e respiradores, o apagão desta terça-feira (8) em sites de empresas de jornalismo, serviços de e-commerce e de governos revela a dependência mundial de poucos provedores de serviços de internet na nuvem.
Grandes veículos de comunicação, como as redes CNN e Bloomberg, jornais como The New York Times, Financial Times e The Guardian, sites de serviços como Amazon e Paypal e boa parte das plataformas dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, ficaram paralisados por até uma hora nesta manhã. Alguns sites ainda não tiveram seus serviços restabelecidos.
Ao que tudo indica, a pane deve-se a uma falha no Fastly (FSLY), provedor de serviço na nuvem sediado nos Estados Unidos, que admite que seus serviços apresentam "performance degradante" mundo afora. A empresa, que abriu o capital em 2019, ajuda sites a mover conteúdo por rotas menos congestionadas, permitindo que eles cheguem aos consumidores com mais rapidez. Além dos veículos e governos citados acima, a Fastly também fornece entrega de conteúdo para Twitch, Pinterest, HBO Max, Hulu, Reddit, Spotify e outros serviços.
Episódios como esses alertam para riscos estratégicos. Primeiro, é muito poder concentrado em apenas uma empresa, no caso a Fastly, sediada em um Estado-nação. Um problema acidental ou proposital - eventualmente, por intervenção de um governo - é capaz de provocar um apagão informativo e comercial com danos potencialmente globais. No caso dos veículos de comunicação, ações desse tipo podem abrir margem para censura e desinformação - desligar um provedor de internet é a versão moderna do empastelamento dos jornais.
O segundo risco estratégico é a vulnerabilidade dessas redes diante de eventuais ataques terroristas. Mirar um provedor, como o Fastly, seria capaz, sabemos hoje, de tirar do ar os sites de dois dos mais poderosos governos do mundo.
Em tempos de paz, é um problema porque acarreta perdas financeiras gigantescas e pode paralisar boa parte do comércio mundial. Em caso de guerra, os danos seriam incalculáveis, da desorientação de comando até o congelamento da reação armada.