Muito já foi e ainda será escrito sobre a história da Lava-Jato. Mas um capítulo novo começa a se desenhar no campo internacional a partir de uma carta enviada por um grupo de deputados democratas ao procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, exigindo explicações sobre o papel supostamente desempenhado pelo Departamento de Justiça americano na operação no Brasil.
O documento foi obtido pelo jornal The Nation e detalhado em reportagem assinada nesta segunda-feira (7) pela jornalista Aída Chávez, correspondente do jornal em Washington e que atuou como repórter de The Intercept no Congresso americano.
Na carta, 23 democratas da Câmara, liderados pelo deputado Hank Johnson, da Geórgia, renovaram as preocupações sobre uma suposta colaboração secreta entre o Departamento de Justiça dos EUA e autoridades brasileiras da Lava-Jato. A história não é nova. A carta agora enviada a Garland tem teor semelhante à que foi remetida ao então procurador-geral William Barr, em 2019. O texto mais recente diz o seguinte:
"Os membros do Congresso merecem uma resposta real e - mais importante - os brasileiros merecem uma resposta real" (...) "Com Lula e a esquerda brasileira agora bem posicionados para vencer as eleições do próximo ano, Garland e o governo Biden devem ser transparentes sobre o envolvimento dos EUA na Lava-Jato e tomar medidas corretivas para garantir que as atividades do DOJ (Departamento de Justiça) no Exterior não promovam operações judiciais antiéticas e potencialmente antidemocráticas no Brasil ou em qualquer outro país".
A carta é assinada por estrelas do Partido Democrata, como a deputada Alexandria Ocasio-Cortez.
Os parlamentares americanos temem que ações de agentes dos EUA possam ser vistas como interferência na política nacional brasileira, já que a Operação Lava-Jato levou ao impedimento da candidatura do ex-presidente Lula em 2018 e alçou o juiz Sergio Moro a ministro da Justiça do atual governo de Jair Bolsonaro.
A Lava-Jato se desenrolou enquanto, nos EUA, as presidênciam eram exercidas pelo democrata Barack Obama, seguida do republicano Donald Trump. Conforme já revelou The Intercept, houve trocas de informações sobre os processos brasileiros com autoridades americanas.
Os EUA têm uma história sombria de intervenção na política interna na América Latina - dos golpes militares dos anos 1960 à Operação Condor, a união dos aparatos dos regimes ditatoriais brasileiros para caçar opositores políticos de esquerda.