Não são poucos os desafios em um país que precisou, no domingo (6), escolher como opção aquilo que os anos 1990 e os 2000 pariram de pior na política latino-americana à direita ou à esquerda – o fujimorismo e o chavismo.
Vença quem vencer a eleição no Peru, a direita de Keiko Fujimori ou a esquerda com Pedro Castillo, os principais problemas do país estarão acima das capacidades de qualquer um dos dois, a se levar em conta os históricos de corrupção, populismos e promessas vãs. Na manhã desta segunda-feira (7), com mais de 90% dos votos apurados, ainda é impossível definir o nome do ganhador. Keiko tem 50,2% dos votos, e Castillo, 49,7%.
O primeiro obstáculo do presidente que assumir o poder em 28 de julho, dia em que os peruanos lembrarão os 200 anos de independência, será com ele próprio: a representatividade. Tudo indica que a votação do segundo turno seria apertada e, a se considerar o resultado do primeiro turno, quando dois terços do eleitorado votaram em outros oito candidatos disponíveis – e não em Castillo ou Keiko –, o vencedor terá legitimidade questionável.
Isso, de antemão, já antecipa o segundo desafio: a crise institucional em que o país está imerso, resultado, em boa parte, de anos de corrupção e, ato contínuo, de judicialização da política. Todos os seis últimos presidentes estão ou estiveram com problemas com a Justiça – e um deles se matou para não ser preso. Só em um mês, novembro de 2020, o país teve três presidentes em cinco dias, o que demonstra forte desconfiança entre o Executivo e o Legislativo.
Em terceiro lugar, a pandemia de coronavírus imprime um desafio natural a qualquer governante. Mas a nação vive um agravante: é a que tem o maior número de mortos proporcionais a sua população no mundo, o que leva ao quarto problema: a crise econômica. O Peru foi o país que mais sofreu economicamente na América Latina devido à covid-19 na América Latina. O Produto Interno Bruto (PIB) despencou 11% em 2020. Dois milhões de peruanos perderam seus empregos durante a pandemia, e 3 milhões se tornaram pobres, e por isso um terço dos 33 milhões de habitantes vive na pobreza, segundo dados oficiais. Embora associada à pobreza, a violência, o quinto desafio, não é nova.
Mas aumentou a sensação de déjà vu após o massacre de 16 pessoas em dois bares em um vale de cultivo de coca, atribuído a remanescentes do grupo Sendero Luminoso, o que fez evocar os anos de terrorismo e extremismo.