Embora seja onipresente na convenção do Partido Republicano, tendo falado todos os dias do evento - algo raro em termos de campanha eleitoral americana -, o presidente Donald Trump faz na noite desta quinta-feira (27) seu mais importante discurso até agora na corrida pelo segundo mandato.
O último dia do evento costuma ser o de maior brilho, encerrando com a fala do candidato. O presidente, que está sete pontos atrás do democrata Joe Biden nas pesquisas nacionais, deve focar seu discurso na busca por mobilizar sua base eleitoral e tentar atrair votantes de centro, apostando na narrativa do medo e da ameaça de os Estados Unidos se tornarem "socialistas" nas mãos dos democratas. A seguir, as apostas da coluna para a fala de Trump.
1 O presidente deve dizer que seu adversário, Biden, sua antiga rival em 2016, Hillary Clinton, e o ex-presidente Barack Obama são radicais de esquerda, que conduzirão o país ao caos sem precedentes caso voltem ao poder. Deve afirmar que a nação será uma anarquia, insegura e que os democratas prejudicarão especialmente os trabalhadores.
2 Sobre o episódio envolvendo Jacob Blake, o homem negro baleado com sete tiros por policiais brancos em Kenosha, Wisconsin, Trump deve se solidarizar com a família da vítima, mas provavelmente focará o discurso na "anarquia" protagonizada, segundo sua visão, por manifestantes que foram às ruas exigir o fim da violência policial - em especial contra negros.
Será a deixa para o presidente se reafirmar como o defensor da "lei e da ordem", como já deixou pistas em mensagem no Twitter, na quarta-feira (26), ao anunciar o envio da Guarda Nacional à cidade palco dos protestos. Também deve aproveitar a ocasião para relacionar a "desordem" ao Partido Democrata - desde a morte de George Floyd, ele tem acusado governadores da legenda de falta de controle nos protestos.
3 Seu discurso ocorrerá nos jardins da Casa Branca, em mais uma amostra de que Trump não obedece os limites entre governo e campanha eleitoral - tampouco entre interesses privados e públicos.
4 Na eleição de 2016, Trump apresentou-se como um outsider. Mesmo não sendo mais um candidato "de fora" do sistema, ele deve ainda apresentar-se como um apolítico, como o único capaz de enfrentar o establishment de Washington.
5 O presidente deve repetir suas suspeitas de que o voto pelo correio pode ser fraudado, algo de que especialistas discordam. Pode ser uma manobra para justificar a contestação do resultado da eleição, em 3 de novembro - caso ele perca, é claro.
6 É possível esperar os temas de sempre: "vírus chinês" para se referir ao coronavírus, a nomeação de juízes conservadores para a Suprema Corte, a retórica anti-migração, pró-família e anti-aborto e a defesa da ideia de que, reeleito, ele irá continuar fazendo a América grande. A construção do muro entre EUA e México, grande promessa de campanha de 2016 (não cumprida), não deve aparecer no discurso. Até porque lembraria Steve Bannon, seu ex-estrategista preso na semana passada por acusação de fraude em uma campanha para arrecadar fundos para a construção da barreira. Trump quer distância de Bannon e do tema.
7 Pandemia e economia serão temas espinhosos. Trump deve exaltar os números econômicos até o início da crise do coronavírus, quando os EUA apresentavam a menor taxa de desemprego em 50 anos. Será mais uma oportunidade para culpar a China pela covid-19. Ele dirá ser o homem certo para recolocar o país nos trilhos do crescimento. Sobre as vítimas do coronavírus (quase 180 mil mortos e mais de 5,8 milhões de infectados no país), Trump deve defender a resposta de seu governo, sugerindo que, com os democratas no poder, seria muito pior. Ele deve prometer a reabertura das escolas e a retomada total da economia americana até o fim do ano.