O indiciamento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em três processos por corrupção e abuso de poder, nesta quinta-feira (21), era algo esperado para quem acompanha a política internacional. O próprio Bibi (como os israelenses chamam o premiê) sabia que isso, mais ou cedo ou mais tarde, ocorreria. Por isso, ele agarra-se ao poder, beneficiando-se da imunidade que o cargo (ainda) lhe confere.
Por enquanto, Netanyahu não precisa renunciar, como fez Ehud Olmert, que preferiu sair do governo em 2008, a levar o país ao desgaste de ter um líder condenado por corrupção. Passou 16 meses na prisão.
Ao não abrir mão do cargo que ocupa ininterruptamente há 10 anos, Netanyahu mantém o país paralisado politicamente. Em um ano, Israel já teve duas eleições, e a nação caminha para a terceira.
A primeira foi em abril, quando nem o Likud (direita) nem a oposição, liderada pelo partido Azul e Branco (esquerda), de Benny Gantz, conquistou maioria no parlamento (a Knesset) para governar.
Netanyahu não conseguiu formar um governo de coalizão pelo simples fato de que ninguém na oposição quer integrar um gabinete em que ele, Bibi, seja o primeiro-ministro. Na eleição de setembro, a segunda, o Azul e Branco ganhou, mas o bloco de direita tem mais deputados, embora nenhum dos dois some a maioria de 61 deputados.
Netanyahu falhou de novo em formar um governo. A chance, dessa vez, foi dada a Gantz, que também não conseguiu romper o impasse. Assim, pela primeira vez na história do país, o presidente Reuven Rivlin delegou ao parlamento como um todo a missão de formar um governo – é necessário que 61 deputados apontem, em três semanas, o futuro premiê. Provavelmente, não irão conseguir e haverá o terceiro pleito – e assim sucessivamente.
Não há uma terceira via, você deve estar pensando? Sim, há. Chama-se Avignor Liberman, do partido Israel Beiteinu (ultradireita secular), legenda que conta com apenas oito deputados na Knesset. E não aceita um governo de coalizão nem com a direita de Netanyahu nem com a esquerda de Gantz.
Em tempo: no campo internacional, o indiciamento de Bibi é uma derrota, por tabela, para Donald Trump e Jair Bolsonaro, que têm no líder israelense o principal aliado na região. Netanyahu é um dos políticos que integram a direita populista idealizada por Steve Bannon, ex-estrategista do presidente americano. Bolsonaro, inclusive, esteve em Israel em abril, às vésperas da primeira eleição, em uma tentativa de retribuir a presença de Bibi em janeiro, na posse em Brasília. Foi cabo eleitoral do colega: à época, a imagem dos dois juntos no Muro das Lamentações, em Jerusalém, foi usada pela equipe de campanha do israelense na busca por votos.