Já estremecidas pela eleição de Alberto Fernández, em 27 de outubro, as relações entre Brasil e Argentina sofreram um novo abalo.
Desta vez, por conta da inauguração da nova rota da companhia aérea Latam entre São Paulo e as Ilhas Malvinas (chamada de Falklands pelos britânicos). O território, no Atlântico Sul, é reivindicado pela Argentina, que travou (e perdeu) uma guerra com o Reino Unido em 1982. Hoje, o arquipélago pertence aos britânicos, mas sucessivos governos argentinos — em maior ou menos grau — reivindicam a soberania sobre as ilhas.
A nova rota da Latam, cumprida por um Boeing 767-300ER, sai de Guarulhos com destino Mount Pleasant, onde existe uma base aérea britânica. São seis horas de voo.
Dias antes da inauguração da rota, houve intensa troca de correspondências entre as chancelarias. Informalmente, o governo de Mauricio Macri pediu ao Brasil que não fosse dado caráter político ao evento — ou seja, que autoridades brasileiras não participassem da inauguração ou mesmo viajassem no voo inaugural. Há preocupação de que a abertura da rota fosse vista como uma chancela do governo brasileiro à soberania britânica das ilhas.
Nesta semana, veteranos da Guerra das Malvinas protestaram em frente ao Ministério das Relações Exteriores da Argentina, em Buenos Aires, contra a inauguração da rota. Um promotor de Justiça, Jorge Di Llelo, aceitou uma denúncia de advogados ligados ao kirchnerismo (tradicionalmente mais nacionalistas) pedindo que o voo fosse cancelado. O juiz federal Luis Rodríguez rejeitou a demanda.
O Brasil reconhece o pleito argentino sobre o arquipélago e chama as ilhas de Malvinas. Tanto a Latam quanto o governo brasileiro buscam "despolitizar" o tema, tratando a nova rota como um assunto "turístico e comercial".
No site da Latam, o próximo voo (com data para 27 de novembro, próxima quarta-feira), custa R$ 2.269,97. A coluna pediu maiores informações à companhia aérea. A assessoria de imprensa da Latam informou que o voo inaugural, no dia 20, "ocorreu normalmente". A aeronave realizou escala em Córdoba (Argentina). O Boeing 767 tem capacidade para 191 passageiros na classe econômica e 30 na premium business.
As posições dos governos brasileiros sobre as Malvinas nem sempre foram transparentes. À época do conflito, o Brasil, que oficialmente mantinha neutralidade, auxiliava os britânicos, permitindo escalas técnicas de seus aviões em aeroportos brasileiros – registros foram feitos à época pelo fotógrafo Fernando Gomes, de ZH, desmentindo a versão oficial.
Em 2017, a coluna mostrou imagens que confirmam que aviões militares britânicos pousaram no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, antes de seguir viagem para a as Malvinas. O episódio provocou mal-estar entre Brasil e Argentina.