O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, é o primeiro figurão do governo de Donald Trump a depor na investigação que pode levar ao processo de impeachment contro o presidente americano. Por isso, suas palavras nesta quarta-feira (20) mostraram o potencial de abalar as estruturas da Casa Branca bem antes de sua chegada ao Congresso.
Ao pisar no prédio do Capitólio, em Washington, Sondland mostrou que estava disposto a contrariar a versão dos homens do presidente de que Trump seria alvo de uma "caça às bruxas" na investigação sobre o suposto pedido para que o governo da Ucrânia investigasse Joe Biden, ex-vice de Barack Obama. Biden é o principal rival de Trump — e favorito nas pesquisas nas eleições presidenciais do ano que vem.
— Como testemunhei anteriormente, os pedidos de Giuliani constituíram um "quid pro quo" para organizar uma visita do presidente Volodymir Zelenski à Casa Branca — disse Sondland aos repórteres.
"Quid pro quo": essa é uma das expressões mais utilizadas nos bastidores de Washington desde o início das investigações que colocaram o governo sob pressão. O próprio Trump tem repetido dezenas de vezes que "não houve nenhum quid pro quo".
De origem latina, a expressão em inglês tem significado um tanto diferente do português. Nos Estados Unidos, é algo dado a uma pessoa em troca de outra coisa" (dicionário de Cambridge). Já segundo o Houaiss, a palavra em português "quiprocó" significa "equívoco que consiste em tomar-se uma coisa por outra; confusão criada por esse equívoco: 'o fato de serem gêmeos gerou um enorme quiprocó'".
No caso americano, é algo como o nosso famoso "toma lá dá cá".
O que isso tem a ver com a investigação sobre Trump? É que, segundo as suspeitas reforçadas pelo vazamento da conversa por telefone entre Trump e Zelenski, em julho, o presidente americano teria condicionado uma visita do ucraniano à Casa Branca e a liberação de US$ 400 milhões em apoio militar à Ucrânia à abertura da investigação sobre Biden e seu filho no país.
Outro aspecto da acusação do embaixador na UE reforça o método de atuação de Trump na presidência, em que ele mistura relações familiares com o poder. Sua filha, Ivanka, e o genro, Jared Kushner, têm enorme influência no Salão Oval. Também depreende-se que o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, seria o articulador do presidente em suas ações na Ucrânia. Conforme o depoimento, os diplomatas obedeciam ordens diretas de Trump por meio de Giuliani. O ex-prefeito de Nova York poderia ter passado à História como um dos grandes nomes da política americana pela bravura com que comandou a cidade em seu pior dia, o 11 de setembro de 2001. Chega ao ocaso da carreira como menino de recados de Trump.