O procurador-geral de Israel indiciou o premier Benjamin Netanyahu por corrupção, recebimento de propina, fraude e quebra de confiança. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (21) através de comunicado do Ministério da Justiça, que apontou o procurador-geral Avichai Mandelblit como responsável por apresentar as acusações. Esta é a primeira vez que um premiê israelense é denunciado pela Justiça no exercício do cargo.
O premier reagiu, denunciando um "golpe de Estado" contra ele.
— O que acontece aqui é uma tentativa de impor um golpe de Estado contra o primeiro-ministro — declarou Netanyahu, pedindo que "se investigue os investigadores" que dirigiram o processo contra ele.
Netanyahu afirmou ainda que são "falsas acusações por motivos políticos", ao se referir à denúncia do procurador-geral por corrupção, fraude e abuso de confiança.
— Tudo isso tem como objetivo minha queda — acrescentou Netanyahu, em entrevista coletiva em Jerusalém. — Continuarei dirigindo este país, de acordo com a lei — acrescentou.
Rival do premiê, Benny Gantz também reagiu à notícia.
— Este é um dia muito triste para Israel — declarou.
No chamado "caso 4000", Netanyahu é suspeito de ter concedido favores do governo, proporcionando milhões de dólares do presidente da empresa de telecomunicações Bezeq, em troca de uma cobertura midiática favorável por parte de um dos órgãos do grupo, o site Walla.
O procurador também decidiu denunciar Netanyahu por "fraude e abuso de confiança" em outros dois casos.
No "caso 1000", acusa-se Netanyahu de ter recebido mais de 700 mil shekels (cerca de 185 mil euros) em presentes, entre outros, do produtor Arnon Milchan e do milionário australiano James Packer, em troca de favores financeiros, ou pessoais. Já no "caso 2000", o premiê é suspeito de ter tentado obter uma cobertura favorável no maior jornal de Israel, o Yediot Aharonot.
Terremoto político
O anúncio pode ter importantes consequências políticas, ao surgir horas depois de o presidente Reuven Rivlin encarregar o parlamento de encontrar um primeiro-ministro que consiga formar um novo governo.
Netanyahu e seu rival Benny Gantz fracassaram em ambas as tentativas. Pela "primeira vez na história de Israel", segundo o presidente, nenhum candidato obteve apoio suficiente para dirigir um Executivo. "O que acontecerá agora? Ninguém sabe, porque isso nunca aconteceu antes", resumiu hoje o jornal "Yediot Aharonoth".
A lei fundamental de Israel, equivalente à Constituição, prevê situações como essa. Após ter encomendado a formação de governo aos líderes dos dois principais partidos do país — o Likud, de Netanyahu, e o Azul e Branco, de Gantz — sem sucesso, o presidente solicitou nesta quinta a Yuli-Yoel Edelstein, presidente do parlamento, que encontre uma personalidade apta a dirigir um futuro Executivo.
Edelstein recebe este mandato em nome do parlamento, que tem 21 dias, até 11 de dezembro, para apresentar a Rivlin um documento firmado por pelo menos 61 deputados — dos 120 desta Casa unicameral — comprometendo-se a apoiar um deles para o cargo de premiê.
— O Estado de Israel atravessa um período sombrio de sua história — declarou o presidente ao Parlamento, pedindo aos deputados que ajam de forma "responsável".
Ele espera, com isso, evitar a terceira eleição em um ano, após as votações realizadas em abril e setembro.
O primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no cargo na história de Israel, Benjamin Netanyahu conta com o apoio de um bloco de direita e religioso que soma 54 deputados. Já Gantz tem o apoio de legendas de centro esquerda e também de deputados árabes, ainda que estes não fossem fazer parte de seu Executivo. Também não conseguiu atingir 61 cadeiras.
Mesmo sem formar governo, Netanyahu e Gantz poderão receber, mais uma vez, esta tarefa, o que reabre o caminho para novas negociações. A acusação pode reduzir, porém, as chances do premiê de angariar apoio dos deputados.