A 13 dias da eleição na Argentina, o slogan de Mauricio Macri é "Sí, se puede", mas poderia ser "Vale todo". O presidente corre contra o tempo, no momento em que as pesquisas mostram que a chapa rival, de Alberto Fernández e sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, tem entre 15 e 20 pontos percentuais de vantagem — o que já liquidaria o jogo no próximo dia 27.
Mas há um clima de ceticismo geral com relação às pesquisas. Durante as primárias de agosto (Paso), os institutos previram vitória de Fernández por quatro pontos de vantagem. No final, ele ficou 15,5 (quase quatro vezes mais) à frente do presidente. O sistema argentino prevê a eleição do presidente a quem alcançar 45% dos votos ou superar os 40% com mais de 10 pontos de diferença. As pesquisas mostram que Fernández e Cristina teriam os dois.
Uma coisa seria uma vitória da oposição no segundo turno, o ballotage, como chamam os argentinos. Mostraria um país dividido. Outra seria uma derrota de Macri no primeiro. Do ponto de vista simbólico, representaria um retumbante não à centro-direita argentina e daria legitimidade para os kirchneristas voltarem em grande estilo, nos braços do povo, à Casa Rosada.
O presidente saiu-se melhor no primeiro debate ao vivo entre os seis candidatos, transmitido da Universidad Nacional del Litoral, em Santa Fé, no domingo (13). Manteve-se calmo, apesar das provocações de Fernández. Quando não havia como defender o indefensável — de que, por exemplo, sua administração irá deixar 5 milhões de pobres a mais do que quatro anos atrás —, Macri mostrou humildade.
— Achei que seria mais fácil — chegou a admitir.
Os números depõem contra o governo: todo o investimento externo que Macri prometeu antes de assumir o poder não chegou ao país. A Argentina tem hoje uma das seis inflações mais altas do mundo. Não vive uma revolta popular, como a que o Equador mergulhou na semana passada, porque a população terá o poder de dizer "basta" a seu governo daqui duas semanas nas urnas. Do contrário, estaríamos assistindo a uma rebelião aqui do lado, como vimos em 2001.
Fernández, conhecido por seu tipo moderado e escolhido para contrabalançar os arroubos de Cristina mostrou-se agressivo, dando a Macri motivos para acusar o kircherismo de não ter mudado.
Macri foi estratégico no debate. Guardou para o segundo duelo, no próximo domingo, em Buenos Aires, seu trunfo: as acusações que pesam sobre Cristina. Em Santa Fé, os 12 anos do casal K. na Casa Rosada foram abordados por seus elos com a Venezuela bolivariana e por ter "destruído a economia" do país, nas palavras do presidente. Fora isso, Cristina passou quase despercebida no debate. Já no avião de volta à capital, a equipe de Macri anunciava que pegará pesado no segundo round. Faltará tempo para listar durante o debate a ficha suja de Cristina. A parceira de chapa de Fernández é investigada por cinco casos de corrupção e já sentou no banco dos réus por ter favorecido em concessões de obras públicas a empresa Austral Construções, de Lázaro Báez, sócio da família, preso desde abril de 2016.