"Trump não é confiável. O socorro aos aliados pode não vir quando for preciso."
Perdão, caro leitor, essas duas frases acima não são novas. Encerrei assim a coluna anterior, de quarta-feira (9), publicada 24 horas antes de o governo de Jair Bolsonaro tomar conhecimento de que o presidente americano recuara na ideia de apoiar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Não era preciso ser vidente para cantar a pedra. Bastava observar a atitude da Casa Branca trumpista em relação aos fiéis companheiros de batalha contra os terroristas do Estado Islâmico na Síria: os curdos. Os Estados Unidos aproveitaram-se da ambição da nação curda por um Estado, usaram de seu exímio poder de luta — em especial das mulheres combatentes — no terreno para defenestrar os extremistas. Feito isso, não veio sequer um muito obrigado. Trump retirou as tropas americanas da região, deixando os curdos à mercê dos ataques da Turquia de Erdogan.
Trump não é fiel no campo de batalha, onde, os militares sabem bem, forjam-se parcerias que duram para sempre. Irmãos de trincheira na guerra não se abandonam em tempos de paz.
Se traiu os curdos, porque seria fiel nos negócios? A despeito da promessa de Trump feita a Bolsonaro na visita à Casa Branca em março (e comemorada como a principal vitória da viagem), o secretário de Estado, Mike Pompeo, rejeitou o pedido de discutir a entrada do Brasil no clube dos países ricos.
E assim o novo Itamaraty aprende, a fórceps, uma das primeiras lições de política externa brasileira. Potências médias, como o Brasil, saem-se melhor no tabuleiro de xadrez internacional adotando o pragmatismo de negociar com todo mundo, evitando alinhamentos automáticos ou ideológicos. O inimigo de hoje pode ser o amigo de amanhã. E vice-versa.
A poucos dias de Bolsonaro embarcar para a China, o "Malvado Favorito" de setores do governo que bebem das palavras de Olavo de Carvalho, há tempo para pensar melhor no discurso, medir as palavras e mirar nos negócios.