O Equador vive nesta terça-feira (8) seu quinto dia de crise, que levou a o governo a uma drástica medida: mudar, temporariamente, a sede administrativa da capital, Quito, para Guaiaquil. Mas o que está por trás da situação?
Primeiro, o contexto: o atual presidente, Lenín Moreno foi eleito em 2017 com mais de 70% de popularidade. Ex-vice de Rafael Correa, entre 2007 e 2013, compactuava com o alinhamento de esquerda nos andes, que compreendia Nicolás Maduro na Venezuela e Evo Morales na Bolívia. Foi eleito em grande parte devido à popularidade de Correa, seu padrinho político que, diga-se de passagem, vive no autoexílio na Bélgica porque foi indiciado em seu país como mandante do sequestro de um adversário político quando ocupava a presidência, sem falar nas investigações da Lava-Jato equatoriana —a Odebrecht teria participado com US$ 2,5 milhões em financiamento eleitoral de Correa.
A economia equatoriana foi dolarizada em 2000 – antes, a moeda era o sucre. Houve bons resultados nos primeiros anos do governo, quando o país crescia a uma média de 4%. O jogo virou com a queda do preço internacional do petróleo – algo que teve reflexos também na Venezuela –, que diminuiu a competitividade do país. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu, e a dívida externa saltou de US$ 10 bilhões em 2009 para US$ 43 bilhões em 2017.
Na eleição de 2017, Moreno rompeu com Correa e se aproximou do centro e da direita. No contexto internacional, também voltou a se alinhar com os Estados Unidos. Em março deste ano, seu governo fechou um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que prevê empréstimo de US$ 4,2 bilhões, parte de uma remessa ainda maior, de US$ 10 bi envolvendo outros organismos internacionais. A conta veio agora: como exigência do FMI, o país deveria cortar subsídios estatais sobre os combustíveis (de quatro décadas), que mantinham o preço controlado, mas oneravam o Estado e reduzir a máquina pública, com cortes de servidores e privatizações. A elevação do preço dos combustíveis, em 123%, foi a primeira onda, reflexo direto do corte dos subsídios.
Há cinco dias há bloqueios de avenidas e estradas, manifestações lideradas pelos setores de transporte e a poderosa organização indígena Conaie (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador), que já derrubou três presidentes – Abdalá Bucaram (1996-1997), Jamil Mahuad (1998-2000) e Lucio Gutiérrez (2003-2005). Para conter os protestos, o governo de Moreno declarou estado de exceção, que permite o uso das forças armadas para conter manifestações e restringe direitos civis e políticos. Moreno acusa o ex-padrinho Correa de instrumentalizar os grupos indígenas para dar um golpe de Estado apoiado pela Venezuela. Como argumento, usa uma viagem do ex-presidente a Caracas para encontro com Nicolás Maduro. É pouco provável. Maduro, a essas alturas, está mais preocupado em se segurar no poder, teria pouca força, recurso e até vontade para apoiar uma ação coordenada além fronteiras.
Nas redes sociais, Correa tem estado bastante ativo, apoiando o movimento das ruas a partir de seu exílio na Bélgica. Mais de 470 pessoas foram presas nos últimos dias.