Há duas formas de avaliar as eleições de domingo (6) em Portugal. Uma delas é vendo na vitória do Partido Socialista a consolidação do país como bastião de resistência da esquerda na Europa. Na vizinha Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Pedro Sánchez, ganhou em abril, mas, sem maioria no parlamento, não conseguiu formar governo até agora. Resultado: os eleitores voltarão às urnas no mês que vem.
Em Portugal, ao contrário, a aliança de governo, apelidada por lá de "geringonça", entre o PS, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, deve ocorrer sem sobressaltos — ainda que os dois menores estejam mais exigentes para manter o primeiro-ministro António Costa no poder. Não abrem mão, por exemplo, de aumento do salário mínimo.
Outra amostra do progressismo português é sua relação com a União Europeia (UE). Enquanto no resto do continente se discute a metade do copo vazio de se pertencer ao bloco econômico — com críticas mais duras vindo de Itália, Polônia, Hungria e, claro, o Reino Unido —, em Portugal mais de 80% dos eleitores estão felizes em fazer parte da UE. Ultranacionalismo, crise de migrações e euroceticismo são palavras que praticamente não fizeram parte do glossário eleitoral.
De quebra, Portugal elegeu ainda o parlamento mais feminino de sua história, com 89 mulheres — 13 a mais do que no pleito anterior. Três delas são negras oriundas de países africanos.
Esse é um lado da eleição. Há outro. Pela primeira vez, a extrema-direita chegou à Assembleia da República, como é chamado o parlamento. O partido Chega conseguiu eleger um deputado, seu líder André Ventura. O programa eleitoral da legenda defende ideias como a castração química de pedófilos, prisão perpétua e redução drástica do tamanho da máquina pública.
Na Espanha, o ultradireitista Vox foi a quinta força mais votada no país em abril. A extrema-direita é governo na Polônia, Hungria e República Checa e integra o Executivo, por meio de coalizões, em países como Itália, Áustria, Finlândia, Letônia, Eslováquia e Bulgária. Ainda que com menos força do que em legislaturas anteriores, os ultranacionalistas também estão no Parlamento Europeu. Agora, apenas os minúsculos Malta, Irlanda e Luxemburgo continuam sem a extrema-direita em seus parlamentos.