Vem aí a terceira onda da polêmica sobre a Amazônia, maior crise internacional do governo Jair Bolsonaro até agora.
A primeira foi a resposta tardia e atabalhoada do Planalto ao fogo, que culminou na saraivada de críticas de líderes globais. A segunda veio à tona com a fala do presidente na ONU, que, ao reafirmar a soberania sobre a floresta, foi elogiado e criticado na proporção exata do tamanho das bolhas de seus seguidores e críticos. Agora, a situação da floresta chega ao Vaticano — e terá cauda longa: o sínodo dos bispos começa neste domingo e irá até 27 de outubro.
O encontro reunirá mais de 150 autoridades do clero, representantes de povos indígenas da Amazônia e líderes internacionais, como o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki Moon. A se julgar pela frase do papa Francisco, na quinta-feira, o sínodo tem potencial para reavivar a polêmica.
— A Amazônia que queima não é apenas um problema daquela região, é um problema mundial — disse o Pontífice, em Roma.
Antes que se acuse a Igreja de "comunista", uma informação: o sínodo sobre a Amazônia foi convocado por Francisco em 15 de outubro de 2017, na Praça São Pedro, logo após a canonização dos mártires brasileiros de Cunhaú e Uruaçu — ou seja, um ano antes da eleição do atual governo. Não se trata, portanto, de perseguição ao Brasil.
Mas, por mais que a Igreja tenha buscado nos últimos dias evitar o acirramento político, em especial no Brasil, fatalmente o encontro acabará contaminado pela polarização. O sínodo é filho da encíclica Laudato si (Louvado Sejas), de 2015, que o próprio Francisco já deixou claro não se tratar de uma "encíclica verde, mas de uma encíclica social baseada no cuidado da Criação". O encontro, entretanto, é alvo de questionamentos também intramuros no Vaticano. Setores conservadores do clero acusam o "viés ambientalista" e propostas impensáveis até alguns anos atrás, como a possível ordenação de homens casados, preferivelmente indígenas, na Amazônia.
No encontro, destaque para o protagonismo do gaúcho dom Cláudio Hummes, cardeal que será relator do sínodo. O que escrever no documento conclusivo poderá servir de instrumento para o Papa fazer uma exortação apostólica, documento importante dirigido a todo o clero.