Há dois lugares cujos interesses considero que podem levar o planeta a uma III Guerra Mundial: o Oriente Médio e a Península Coreana. Pelo menos em um deles, assistimos a uma tentativa de racionalidade. Saiba por quê.
1) O que aconteceu?
Os presidentes da Coreia do Norte e da Coreia do Sul trocaram caloroso aperto de mão nesta sexta-feira (quinta-feira, 26, no horário de Brasília) sobre a linha de demarcação que divide os dois países antes de uma cúpula histórica.
2) Por que é histórico?
Os dois países estão tecnicamente em guerra. O conflito entre 1950 e 1953, no contexto da Guerra Fria (o Norte, comunista, aliado da URSS, e o Sul, capitalista, parceiro americano) foi encerrado por armistício. Nunca houve acordo de paz.
Esta é a primeira vez que um líder norte-coreano cruza a fronteira, no paralelo 38º, desde o conflito. Kim Jong-un foi recebido por Moon Jae-in, e os dois foram até a Casa da Paz de Panmunjom. Não é comum o norte-coreano sair do país – ocorreu em março, em visita à China. Esta é a segunda vez.
3) O que os dois lados querem?
Em termos imediatos, a Coreia do Norte deseja o fim das sanções econômicas. Os sul-coreanos querem a extinção do programa nuclear do Norte, entre outros temas que dizem respeito a milhares de vidas. Quando a península foi dividida, famílias foram separadas. A retomada dos encontros, algo que acontecia nos anos 1990, já será uma vitória.
4) Por que agora?
É surpreendente que a situação tenha se acalmado na Península Coreana após um ano de intensas provocações. A Coreia do Norte testou vários mísseis, alguns deles caindo no Mar do Japão. O governo anunciou que teria condições de atingir o território americano e realizou um potente teste nuclear em setembro.
Os EUA chegaram a informar o desvio de um porta-aviões para a região. Na ONU e por meio do Twitter, Donald Trump lançou ataques verbais a Kim, a quem chama de "Homem-foguete". Mas a tensão arrefeceu desde que a delegação norte-coreana participou dos Jogos de Inverno, em PyeongChang. A chegada ao poder de Moon, na Coreia do Sul, também contribuiu. Ele foi um dos artífices das negociações entre os dois países nos anos 1990.
5) Podemos confiar em Kim?
É sempre necessário ficar com os dois pés atrás. Já houve aproximações semelhantes, e o diálogo foi superado por trocas de acusações que culminaram na volta das hostilidades. A Coreia do Norte chegou a prometer o fim de seu programa nuclear, mas recuou. Desta vez, Kim se faz ouvir com mais força. No início do ano, convidou Trump a um encontro – que deve acontecer em maio ou junho. Os norte-coreanos sempre disseram que a crise era com os EUA, não com os “irmãos” do Sul. Suspeita-se que a ditadura Kim tenha atingido tecnologia nuclear suficiente para ter poder de barganha no cenário internacional.