Por décadas, o regime norte-coreano chantegeou o Ocidente. A cada degrau que o governo comunista subia rumo ao clube das potências nucleares, a comunidade internacional reagia com sanções econômicas, que, como se sabe, só penaliza civis – no Iraque à época de Saddam Hussein, na Venezuela do chavismo-madurismo ou na Coreia do Norte da dinastia Kim. População esfomeada é igual a controle social.
Se a estratégia política do governo comunista sempre foi a sobrevivência, o que quer Kim Jong-un agora, ao elevar o tom contra os EUA – em ato contínuo às ameaças de Donald Trump, que prometeu "fogo e fúria"? Estamos à beira de uma guerra nuclear?
Aos fatos. A promessa norte-coreana de um ataque contra a base militar americana de Guam, no Pacífico, vem em meio a uma escalada de palavras incendiárias de ambos os lados, mas, principalmente, acompanhada da informação revelada pelo jornal The Washington Post de que o país teria conquistado a tecnologia para colocar uma ogiva nuclear dentro de um míssil. Esse processo sempre foi visto como o mais difícil no desenvolvimento de uma arma atômica: uma coisa é ter a bomba, outra é saber como lançá-la.
O relatório da inteligência americana só veio a público na terça-feira, mas há meses o governo norte-coreano tem provocado os EUA com testes de mísseis intercontinentais supostamente capazes de atingir o Estado do Alasca e e a Costa Oeste, cidades como Los Angeles e São Francisco.
Não se sabe se, em uma operação real, isso funcionaria e, obviamente, os americanos não irão pagar para ver. Em resposta, os EUA realizaram, com sucesso, um exercício de interceptação de um foguete no ar, sobre o Pacífico.
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Não é apenas uma escalada militar. A pressão nos bastidores diplomáticos por punições contra a Coreia do Norte cresceu. Os EUA apadrinharam novas sanções econômicas no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que foram aprovadas com as bênçãos da China, principal parceiro (e um dos únicos) do governo norte-coreano. A penalização vai cortar US$ 1 bilhão em receitas por exportações do país de Kim. Pesou no bolso. Ora de ladrar, como sempre fez a dinastia norte-coreana – primeiro o pai, falecido em em 2011, e de uns anos pra cá, o filho.
Antes de disparar qualquer míssil contra o território continental americano ou a base de Guam, o regime norte-coreano teria alvos bem mais próximos e certeiros diante da duvidosa eficiência de suas armas: o Japão e a Coreia do Sul – nesta última, por exemplo, há centenas de militares americanos. Não a toa, nos últimos meses, os americanos deslocaram um arsenal de 700 mísseis Tomahawk em navios e submarinos para a região, o suficiente para mandar pelos ares a Coreia do Norte antes mesmo de Kim apertar qualquer possível botão nuclear.
Nesta quarta-feira, o governo chinês denunciou "palavras e atos" que agravam a situação e pediu calma. Atuou como se espera de um player cada vez mais importante no cenário econômico e, agora, geopolítico global. Até por afinidade ideológica com Pyongyang, ninguém mais do que a China, único interlocutor entre EUA e Coreia do Norte, pode evitar uma guerra nuclear.