Após inacreditáveis nove anos, a troca do pavimento do corredor de ônibus da Avenida João Pessoa – uma das obras prometidas para a Copa de 2014 – deve finalmente ficar pronta na terça-feira.
– Vai chover! – é o que diria minha saudosa avozinha.
A reforma, aparentemente simples, começou no longínquo 2012 e deveria ter sido concluída um ano depois. Mas uma sucessão de imprevistos e barbeiragens acabou transformando, ao longo de quase uma década, uma substituição banal de asfalto por concreto em uma angustiante via-crúcis.
Em junho, por exemplo, veio mais uma alteração no prazo de entrega. Sabe por que a obra atrasou? Porque tinha faltado incluir o serviço de pintura das faixas de tráfego. Deu para entender? Sabe aquela sinalização no chão que todo corredor de ônibus da face da Terra certamente tem? Pois é, faltava isso.
Mas o pior foi em 2015, quando apareceram rachaduras, trincas e todo tipo de defeito no concreto já colocado. A empreiteira, então, precisou destruir o que estava pronto e refazer alguns trechos – um raro caso de obra que andava para trás. Para completar o desastre, a empresa entrou em falência, o contrato foi rescindido, e só em 2019 veio uma nova licitação da prefeitura.
Alguns imprevistos são inevitáveis, claro, mas o histórico vergonhoso de Porto Alegre envolvendo as obras da Copa precisa servir de lição. No caso da trincheira da Anita Garibaldi – concluída em 2020 após seis anos de adiamentos –, o projeto inicial ignorou que havia uma pedra no meio do caminho: sim, um gigantesco pedregulho, no subsolo, impedia a execução dos trabalhos.
Essa é a lição que fica: planejamento, estudos e projetos detalhados precisam ser uma prioridade.
Já a trincheira da Ceará, entregue em março, foi construída em cima de um rio – eu disse um rio! –, mas só foram se dar conta disso quando as escavações começaram. Tanto na Anita quanto na Ceará, assim como no corredor da João Pessoa, a prefeitura viu-se obrigada a fazer uma série de aditivos e readequações. Em resumo, gastou muito mais tempo e dinheiro do que o previsto.
O então secretário adjunto de Planejamento, Daniel Rigon, fez um diagnóstico preciso em 2019:
– Na China, passam cinco anos fazendo um projeto e um ano realizando a obra. Aqui, é um mês fazendo o projeto e 10 anos executando e consertando o que foi mal planejado.
Essa é a lição que fica: planejamento, estudos e projetos detalhados precisam ser uma prioridade. Vamos ver se a gente aprende – por enquanto, a dica é um bom guarda-chuva na terça-feira.