Um prédio desses à beira d'água, irradiando modernidade com suas cores e curvas, teria vocação para cartão-postal em qualquer cidade de Primeiro Mundo. Em Porto Alegre, ainda não.
O Memorial Luiz Carlos Prestes, último projeto concebido por Oscar Niemeyer, morto em 2012, nunca entrou em roteiros turísticos da Capital, fica aberto ao público apenas oito horas por semana e, na maior parte do tempo, funciona como reduto de uma encolhida esquerda gaúcha.
– Se a gente olhar para a conjuntura adversa, temos orgulho por mantê-lo aberto – diz o vice-presidente da Associação Memorial Luiz Carlos Prestes, Edson Santos.
De fato, em meio à escalada conservadora dos últimos anos, sustentar um museu que homenageia o maior ícone do comunismo nacional não deixa de ser uma façanha. O memorial foi inaugurado em outubro de 2017, sob protestos da direita, e chegou a ser alvo de um projeto na Câmara de Vereadores para inviabilizá-lo.
Hoje, às vésperas do segundo aniversário, não recebe mais ataques – mas também não recebe muita gente. Com as portas abertas somente aos sábados e domingos, das 14h às 18h, a casa acolhe entre 15 e 20 visitantes por tarde. São pessoas que passeiam pela orla, às vezes de skate ou bicicleta, e param para conhecer o vistoso prédio. Lá dentro, passam alguns minutos entretidas com a atração do local: uma linha do tempo que conta a vida de Prestes em 135 fotos espalhadas pelas paredes.
– Nosso intuito é homenagear uma personalidade. Não é algo comercial, não tem o mesmo papel que um Iberê Camargo – pondera Edson Santos, lembrando que a entrada é sempre franca e que, no futuro, o objetivo é receber exposições com maior frequência.
Falando em frequência, é durante a semana, quando está fechado ao público, que o memorial recebe mais gente: turmas de escolas e de faculdades – quase sempre de Arquitetura – aparecem por lá com hora marcada. E uma série de seminários e encontros reúne dezenas, às vezes centenas, de militantes de esquerda. Os temas vão de assuntos mais amplos, como meio ambiente e crise urbana, a questões mais específicas, como a prisão de Lula ou solidariedade a Cuba.
Segundo Edson, são os 18 membros da associação que mantêm o Memorial Luiz Carlos Prestes – com a ajuda de outros amigos, os R$ 5 mil mensais para sustentar o museu nunca foram problema. Até porque a manutenção e a segurança são atribuições da Federação Gaúcha de Futebol, que topou a parceria para erguer sua sede no mesmo terreno. Nesses dois anos, o memorial nunca fez parte de programações do município, como a rota da Linha Turismo.
– A administração municipal nos respeita, mas tem outra visão de mundo. Não enxerga o local como um patrimônio da cidade – avalia o vice-presidente da associação.
Com Rossana Ruschel