No momento em que o país inteiro discute a regulamentação das patinetes elétricas, o debate sobre uso obrigatório de capacete ganhou força com a morte de um homem em Belo Horizonte, no fim de semana. Roberto Pinto Batista Junior, engenheiro de 43 anos, caiu do aparelho e bateu a cabeça em um bloco de concreto que separava a ciclovia da pista de veículos.
Se tivesse de capacete, teria sobrevivido? É provável que sim. Mas também é provável que, se o acidente fosse de bicicleta – não há uma lei obrigando ciclistas a protegerem a cabeça –, a mesma tragédia tivesse ocorrido.
Ninguém discute que o uso do capacete é recomendável. As empresas que alugam patinetes deveriam, inclusive, estampar nos próprios aparelhos advertências alertando para os riscos da falta de proteção. Essa conscientização é saudável, mas tornar o equipamento obrigatório, como vêm defendendo jornalistas e políticos do centro do país, inviabilizaria a atividade – o que é ruim para mobilidade, economia, turismo e lazer, além de um passo na contramão das inovações que seduzem o mundo todo.
Obrigue as empresas a fornecerem capacetes, e temos um problema de higiene: como oferecer a um cliente um item que já foi usado por outras 12 pessoas em um mesmo dia? E como controlar os furtos? Como manter equipamentos em todo lugar onde houver uma patinete? Impossível.
Outra opção é exigir que o usuário carregue seu próprio capacete – só que isso só funciona quando a pessoa é dona do veículo. A lógica do compartilhamento, para dar certo, precisa justamente da espontaneidade, da falta de planejamento: a ideia é que o cliente possa, por exemplo, desistir de pegar um Uber na última hora porque, de patinete, vai escapar do engarrafamento.
Em Porto Alegre, onde a regulamentação já virou lenda, com novos prazos se empilhando desde o início do ano, a tendência é de que o capacete seja apenas recomendado. O ideal, para de fato evitar acidentes previsíveis – que inclusive já ocorreram por aqui –, seria proibir o trânsito de patinetes nas calçadas. Porque, se no caso das bicicletas a orientação, na ausência de ciclovia, é sempre pedalar no leito da rua, como pode um veículo motorizado que atinge 20 km/h dividir espaço com pedestres?
Há problemas maiores que o capacete.