Quatro bares já fecharam as portas. Desistiram da rua que um dia concentrou a maior agitação noturna de Porto Alegre. A João Alfredo agora vive um limbo: não é mais o inferno que culminou em um triplo homicídio em janeiro, mas ainda não é o paraíso que a prefeitura promete para ela.
Com a debandada do público disposto a gastar, botecos e casas noturnas saíram de cena elencando uma série de complicações: movimento em queda, interdições supostamente arbitrárias, dívidas acumuladas e novo perfil de frequentadores.
– Os novos clientes perguntavam: "Por que vocês não tiram essas velharias da parede?" – conta o proprietário do Antique, Renato Galarza, que exibia no bar um simpático acervo com 10 mil antiguidades.
Fechado em junho, após seis anos operando na esquina com a Luiz Afonso, o Antique também se recusou a trocar o rock pelo sertanejo universitário, como pediam os recém-chegados. Luiz Carlos Cimador, que por 11 anos comandou a casa noturna Preto Zé, faz coro sobre a mudança de público.
– A moda agora é funk e ficar no meio da rua tomando kit – constata ele, fazendo menção ao combo de vodca, energético, gelo e copo plástico que virou sensação na Cidade Baixa.
Cimador ainda se queixa da gigantesca lista de exigências que órgãos de fiscalização cobravam para manter o estabelecimento aberto. Na última interdição, em fevereiro, ele desistiu de vez: conta que os bombeiros pediram uma terceira porta na parede da frente, mas a prefeitura teria barrado a obra porque a fachada é tombada.
– Era um problema insolúvel. Me deram a opção de fazer um corredor enclausurado e outra escada, mas não havia mais condição financeira para isso. A intenção não era fiscalizar, era fechar – afirma Cimador.
Ele ainda tentou abrir o Pretinho, do outro lado da rua, mas a casa não durou três meses – no mesmo imóvel, o baixo movimento já havia levado o Nega Frida e o Clube Silêncio a fecharem as portas. Segundo Ricardo Petrus, sócio do Kamão Bar e Restaurante, que fechou em junho, o poder público parecia entender que, inviabilizando os bares, as aglomerações na João Alfredo diminuiriam.
– É uma lógica burra, porque fecharam quem ajudava a botar ordem na rua – avalia Petrus, que durante o dia abriu uma fábrica de bebidas, a LeMule, na antiga sede do Kamão.
Procurada pela coluna, a assessoria dos bombeiros informou que a corporação sempre seguiu resoluções técnicas para determinar ou não as interdições. Já a prefeitura garantiu que só interdita quando há "risco iminente" aos frequentadores.
No mês passado, aliás, o Executivo concluiu a pintura da nova sinalização da João Alfredo, primeiro passo de uma profunda transformação na via: a meta é torná-la, em 2020, um dos espaços públicos mais atrativos de Porto Alegre.
Com Rossana Ruschel