Após 28 anos de indefinições, o Memorial Luiz Carlos Prestes está – com o perdão do trocadilho – prestes a ser inaugurado na Avenida Beira-Rio, onde o prédio projetado por Oscar Niemeyer já está pronto. A previsão é de que seja aberto ao público em outubro, mas, como é praxe em Porto Alegre, alguém quer sabotar tudo.
O vereador Wambert Di Lorenzo (Pros) apresentou um projeto que, se for aprovado, acaba com o memorial. Wambert propõe que o prédio abrigue o Museu da História e da Cultura do Povo Negro. Não foi o vereador quem teve a ideia desse museu – ele foi criado por uma lei aprovada em 2010, mas segue sem uma sede.
– Prestes foi um traidor da pátria brasileira, é um absurdo ele ser retratado como herói – afirma Wambert, como se pudesse decidir quem deve ou não ser herói.
Mais de Paulo Germano sobre Porto Alegre:
Estátua de leão que irritou artistas foi comprada em loja de enfeites para jardim
Revitalização do Largo dos Açorianos não tem prazo para conclusão
Tabela horária da EPTC é uma peça de ficção
Católico ligado à Opus Dei e professor de Direito na PUC, o vereador é daqueles que contribuem para o estafante ambiente de polarização política. Desde o início do mandato, não apresentou nenhum outro projeto, mas requisitou a abertura de duas frentes parlamentares: a de Defesa Pela Vida, que luta contra o aborto – assunto de competência exclusiva do Congresso – e a de Revisão Legislativa, que se dedica a revogar leis consideradas "ineficazes".
Agora, quer impor o que deve ser feito no prédio que Oscar Niemeyer, antes de morrer, projetou com o único propósito de homenagear seu amigo.
– Meu bisavô só falava nesse memorial quando faleceu – lembra Paulo Niemeyer, bisneto do lendário arquiteto.
A questão é que Prestes, uma figura sem dúvida controversa, era um líder comunista – e, nas palavras de Wambert, "um homicida". Bem, dependendo do ponto de vista, Júlio de Castilhos, Bento Gonçalves, Getúlio Vargas e Médici, todos gaúchos como Prestes, também podem ser tachados de homicidas, mas Wambert jamais propôs destruir monumentos ou trocar nomes de rua que os homenageiam.
E assim a cidade corre o risco de perder um novo espaço cultural – o Memorial Luiz Carlos Prestes receberá exposições que não se restringem apenas à memória do comunista. Tudo porque alguém sempre quer decidir quem pode ou não ser herói.