Depois de tomar uma bronca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deu início nesta quarta-feira (10) a uma série de reuniões com os partidos da base.
Em encontros separados, ele discutirá com ministros e líderes de cada sigla a relação no Congresso. Com uma lista de traições recentes, o compromisso em votações será um dos principais temas.
A rodada começou com o PSB. No gabinete do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, Padilha discutiu com integrantes do partido os gargalos da articulação. O deputado Felipe Carreras (PSB-PE) argumentou que o posicionamento da legenda na votação dos decretos do saneamento levou em conta a orientação do bloco ao qual o partido pertence. Ele é líder do "blocão" criado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que reúne em torno de 175 deputados de União Brasil, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Patriota, Avante, PSB e PDT.
Na saída, somente a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, aceitou falar à imprensa. A dirigente petista admitiu que "estava faltando conversar mais" e pontuou que, independentemente de compor outro bloco na Câmara, o PSB faz parte do governo e precisará observar este compromisso.
Ainda nesta quarta-feira, Padilha deverá se reunir com a cúpula do PSD. Depois, terá encontros com MDB e União.
Na segunda-feira, após ser chamado ao gabinete de Lula, Padilha convocou a imprensa para tentar amenizar o impacto da derrota na votação de decretos que tentavam alterar o marco do saneamento. Classificou o episódio como uma exceção em uma agenda que até agora seria vitoriosa.
A interpretação é contestada, contudo, por integrantes do próprio governo. Colegas de esplanada ficaram incomodados com a postura de Padilha, que deu a entender que faltou empenho de alguns ministros durante as discussões da matéria na Câmara.
A ideia de mudar a lei aprovada pelo Congresso por meio de decreto também desagradou integrantes da base, vista como tentativa de ferir a autonomia do Legislativo. Padilha insiste no tema e tentará reverter o placar durante análise da matéria no Senado, mesmo que as sinalizações na Casa sejam de nova derrota.
Além disso, o governo tem à frente a tarefa de aprovar as medidas provisórias editadas no início do ano, entre elas a que modifica a estrutura ministerial. O prazo vence no final do mês. No curto prazo, também há o desafio de aprovar a nova regra fiscal, que dará o norte para o futuro da economia.
Experiente, Padilha fez questão de dizer em frente às câmeras nesta semana que não é "marinheiro de primeira viagem", citando o trabalho de articulação que conduziu nos primeiros mandatos de Lula. A fragilidade da base, contudo, mostra que ele terá um caminho longo a percorrer se quiser evitar que a articulação atrapalhe os planos do governo.