Após vários alertas de que a relação com o Congresso poderia comprometer o início de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) finalmente decidiu agir para equalizar a relação. Ao retornar da viagem ao Reino Unido, o petista pretende se reunir com líderes de partidos da base na semana que vem e poderá até mesmo encontrar caciques de partidos que não compõem formalmente sua rede de apoio.
A DR, ou seja, a conversa para discutir a relação, não será tarefa fácil e também depende do ingrediente que todos os governos adotam para temperar a relação: o pagamento de emendas parlamentares. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e outros líderes já reclamaram ao Planalto de demora na execução do orçamento destinado por eles às bases eleitorais.
Com ministérios e cargos espalhados no governo, PSB, MDB, PSD e União Brasil serão cobrados a demonstrar fidelidade nas votações. Lula sabe, contudo, que dificilmente terá apoio unânime nestes partidos, dada a diversidade das bancadas regionais. Por isso, aposta na aproximação com integrantes de outras siglas, como Republicanos e o PP, de Lira.
Além da derrota na votação de decretos sobre saneamento, a retirada de votação do PL das Fake News, que contava com apoio do governo e de Lira, acendeu um alerta no Planalto. Com uma CPI à frente, que deve exigir capacidade de mobilização, e a necessidade de aprovar medidas econômicas - como a nova regra fiscal e reforma tributária -, ter mais previsibilidade sobre o tamanho da base é fundamental.
No caso dos decretos que tentavam mudar o marco do saneamento, Lula e sua equipe também pecaram ao desconsiderarem a autonomia do parlamento, que havia aprovado uma lei sobre o tema. A tentativa de regredir primeiro de decretos causou desconforto entre os deputados.
Além do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que durante a semana levou uma reprimenda pública do presidente, também há casos de descontentamento interno com o trabalho dos líderes na Câmara, José Guimarães (PT-CE); no Senado, Jaques Wagner (PT-BA); e no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).