A disputa de poder em torno da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro vai parar na Justiça antes mesmo da instalação do grupo. Inconformado com o posicionamento dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que na prática garantem maioria à base governista, o partido Novo anunciou que ingressará com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF).
A divergência envolve os critérios para definir o tamanho de cada bancada na comissão que investigará os atos golpistas. No caso do Novo, por ter apenas três parlamentares eleitos e não ter atingido a cláusula de barreira, Lira entendeu que o partido não se qualifica para o cálculo de proporcionalidade da comissão.
Nesta sexta-feira (5), Pacheco seguiu entendimento semelhante e negou requerimento do senador Rogério Marinho (PL-RN) que questionava uma manobra do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Randolfe mudou de bloco partidário às vésperas da instalação da comissão.
Se as decisões forem mantidas, das 32 cadeiras titulares da CPI, 21 serão de nomes vinculados à base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Diferentemente do Novo, Marinho disse à imprensa que recorrerá a instâncias do próprio Senado, e não à Justiça, para tentar reverter a decisão de Pacheco. Um recurso será encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A disputa em torno da composição é importante porque, ao ter maioria, o governo terá mais facilidade para direcionar os trabalhos da comissão. Embora com dificuldades de articulação no Congresso, aliados de Lula têm encontrado respaldo dos presidentes da Câmara e do Senado em torno da CPI pela indignação que os atos de 8 de janeiro provocaram entre os chefes de poderes.
Enquanto a oposição pretende explorar a suposta omissão do atual governo na contenção dos manifestantes, não há dúvidas entre os caciques do Congresso de que a responsabilidade dos atos e o planejamento dos mesmos estão na conta de simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro.