
O presidente Lula e seus ministros subestimaram o tamanho da crise provocada pela fraude que prejudicou milhares de aposentados e pensionistas do INSS. Na Câmara e no Senado, sobram assinaturas em apoio a uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). Além de tentar barrar a iniciativa, o governo corre para se livrar das acusações de omissão diante dos diversos alertas de órgãos de controle sobre o esquema criminoso. Até agora, a oposição venceu de goleada a disputa de narrativas.
Desde o início, a estratégia do governo é exaltar o fato de o esquema criminoso ter começado no governo de Jair Bolsonaro. Lula e os ministros têm reforçado em entrevistas que foi apenas na gestão petista que a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) descobriram o esquema. O que o Planalto não conseguiu esclarecer, e tem sido explorado com sucesso pela oposição, é por que os alertas de fraude foram ignorados por tanto tempo.
É verdade que o próprio Congresso deveria dar explicações por ter barrado uma fiscalização mais efetiva. Em 2019, o governo Bolsonaro editou uma Medida Provisória estabelecendo que entidades conveniadas ao INSS deveriam comprovar anualmente a autorização de aposentados e pensionistas para os descontos. Os deputados e senadores derrubaram a exigência.
Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, reconheceu que o governo precisava ter se antecipado à crise, e culpou a CGU por não fazer a ministros os alertas devidos. A crítica pública a um colega de Esplanada evidencia não apenas a desorganização do governo, mas que a crise internamente está fora de controle.
Lula também errou ao não demonstrar a necessária indignação com a inércia do Ministério da Previdência. O presidente não barrou a indicação do então secretário-executivo Wolney Queiroz para a cadeira de Carlos Lupi, e demorou para exigir a demissão do presidente nacional do PDT da pasta.
Além de tentar se eximir de culpa pela falta de controle do INSS, o governo espera reverter a crise com o rápido ressarcimento dos aposentados e pensionistas. Nos bastidores, a decisão de utilizar dinheiro do Orçamento para a iniciativa já foi tomada. É a única forma de assegurar a devolução rápida. Como se sabe, a burocracia e a judicialização do caso impedem a recuperação rápida do que foi levado pelos golpistas.