Não tem respiro de domingo antes de uma semana decisiva para o futuro da Argentina, quando o Congresso começa a analisar as medidas dramáticas propostas pelo presidente Javier Milei.
Há resistência nos poderes Judiciário - que começa a derrubar pontos do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) - e Legislativo - que está convocado para sessões extraordinárias mas quer debater antes de aprovar a "lei ônibus" que, com seus 664 artigos, dá poderes extraordinários ao governante.
Em entrevista à Rádio Mitre neste domingo (7), o ministro do Interior, Guillermo Francos, carregou nas tintas trágicas para pressionar por uma rápida aprovação da mudanças profundas:
— Não temos tempo, se levarmos todo o ano discutindo uma lei, não entram um peso a mais na Argentina, ninguém vai investir, e temos necessidade de investimentos para tudo.
O tom de Francos chamou ainda mais atenção pelo perfil do ministro, considerado um dos mais hábeis negociadores que integram o atual governo - e um dos menos inclinado a exotismos na atual gestão. A convocação para os parlamentares começa na terça-feira (9), portanto não há ainda qualquer atraso efetivo.
Até o presidente do bloco do partido de Milei, La Libertad Avanza (LLA) na Câmara dos Deputados, Oscar Zago, admitiu que as propostas poderão ter "correções" se for necessário para aprovação. Mesmo assim, assegura que o governo tem maioria para aprovar o DNU - na Argentina, decretos também passam pelo Legislativo - e a "lei ônibus", cujo nome oficial é Base e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos. No país, a última parte do nome já é chamada de "liberdade para alguns argentinos", já que proíbe até reuniões com mais de três pessoas sem autorização legal.
Um dos motivos da pressa é uma greve geral convocada pela Central Geral dos Trabalhadores (CGT, a maior organização sindical argentina), para o dia 24. Seriam 12 horas de paralisação e uma marcha ao Congresso. Ao se referir a essa convocação, Francos pediu que "deixem Milei governar":
— Há necessidade e urgência, é preciso definir a norma com rapidez para dar sinais claros de que estamos mudando.
Às vésperas da semana decisiva para seu governo, Milei fez visita à Antártica. No sábado, esteve nas bases argentinas de Marambio e Esperanza. Assinou acordo de cooperação com o Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA). Calma: em tese, é só para uso de tecnologia nuclear no controle da contaminação por plásticos no continente gelado.