Só a ida de duas comitivas a Roraima e o início do controle do tráfego aéreo já serviram para começar a afugentar garimpeiros da Terra Indígena Yanomami - área que concluiu todos os processos para constituição de reserva em 1992.
É uma mostra de que a mera presença simbólica da lei e da ordem podem fazer - por consequência, de quanto o que deixou de ser feito no governo anterior contribuiu para deteriorar a situação.
Como boa parte da área faz fronteira com a Venezuela, o país vizinho tem sido destino de parte dos garimpeiros em fuga, conforme relatos da Polícia Federal. A presença de mais de 20 mil garimpeiros na reserva - ilegal por definição - só havia sido possibilitada por inúmeros voos clandestinos no território - foram estimados até 40 por dia.
No dia 1º deste mês, a Força Aérea Brasileira (FAB) passou a controlar o espaço aéreo na reserva, a partir de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que criou uma Zona de Identificação de Defesa Aérea.
O Brasil - e boa parte da imprensa - precisou de um choque de realidade para entender o que estava ocorrendo nesse território. Passaram-se 15 dias desde a chegada de uma comitiva presidencial que incluiu equipes de socorro e contribuiu para provocar consternação nacional sobre o estado de abandono dos indígenas.
Se parece pouco tempo para já espantar criminosos, é muito para brasileiros que enfrentam fome e doença provocadas por uma atividade que já representa mais da metade da produção brasileira de ouro. A Defensoria Pública da União critica o atual governo pea demora em enviar aviões e pessoal para ajudar a superar a crise dos yanomamis. Em ofício, pede a apresentação, até a segunda-feira (6) respostas e medidas concretas para dar eficácia a ações junto aos indígenas.
Como advertem pesquisadores envolvidos há anos no levantamento das causas e consequências do abandono da reserva pelo Estado brasileiro, a fuga pode ser temporária, até "baixar a poeira" na região. Sem o sufocamento da atividade criminosa que rende lucros a poucos, não há solução possível.