As cenas nunca antes vistas de destruição gratuita e deliberada do patrimônio público em Brasília serão uma cicatriz permanente na democracia brasileira. Mas não uma ferida aberta: em pouco mais de 24 horas, a fração golpista foi isolada com a retomada da força das instituições.
Em nove dias, a rampa do Palácio do Planalto foi cenário de três momentos históricos: a subida simbólica da sociedade brasileira plural representada por oito pessoas, a corrida bárbara para a destruição oito dias depois e a descida protagonizada pelo presidente da República e por 27 governadores legitimamente eleitos, além dos demais presidentes de poderes.
O novo desfile na rampa teve uma mensagem poderosa. No grupo, estavam governadores que haviam feito campanha para o adversário, como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Tarcísio de Freitas (PR), de São Paulo, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, só para citar os mais emblemáticos.
Não era uma questão política, era institucional: nenhum desses governadores passará a ser aliado do governo Lula, mas foram unânimes na condenação da barbárie - a palavra, inclusive, foi usada por Zema ao dar entrevista à GloboNews depois do ato simbólico de apoio aos três poderes. É essa barbárie que precisa ser condenada publicamente por qualquer agente econômico, político e social. Sem isso, só resta a opção da conivência.
O discurso da retomada da institucionalidade contagiou também o mercado financeiro ainda antes da produção da imagem mais simbólica do dia seguinte à destruição e ao ensaio fracassado de golpe de Estado, a de todos os representantes do poder estabelecido desfilando unidos na rampa do Planalto. Em um dos comunicados matinais para investidores, o resumo da ópera: "a resposta do governo federal tem sido enérgica e de modo a, rapidamente, remediar o ambiente de desorganização institucional e depredação deixado pelos manifestantes antidemocráticos".
No bem calculado roteiro da retomada, primeiro veio o símbolo, depois sua tradução prática: a Câmara dos Deputados aprovou, na noite de uma segunda-feira, a intervenção pública na segurança no Distrito Federal. Nesta terça (10), o Senado deve concluir essa votação. Parafraseando o atual presidente, nunca na história recente desse país a fração golpista esteve tão isolada.
A próxima tarefa é responsabilizar - nos termos da lei e observado o direito de defesa - todos os envolvidos: dos participantes diretos, que produziram fartas provas contra eles mesmos em fotos e vídeos publicados em redes sociais, os financiadores que permitiram a manutenção de acampamentos por dois meses em Brasília e nos Estados e os mentores intelectuais do discurso que levou fanáticos e lunáticos a produzir os horrores de 8 de janeiro de 2023.