A cena registrada na noite da última segunda-feira (9), em Brasília, ficará registrada na história: Lula ao centro, de cabeça erguida, seguido pelos chefes dos demais poderes, caminhando a passos firmes com os governadores até o prédio da Suprema Corte em destroços. A imagem da união de forças pela democracia será lembrada, também, como o retrato da autossabotagem bolsonarista.
Não foi só um tiro no pé. Foi uma bomba endereçada às instituições democráticas que acabou por explodir no colo dos próprios golpistas.
A fuga de Jair Bolsonaro para os Estados Unidos já havia dado a Lula a cena icônica da entrega da faixa por representantes do povo. Com os atos de terror do último domingo (8), marcados por cenas lamentáveis de fanáticos rindo e fazendo troça da destruição do patrimônio público, os seguidores de Bolsonaro conseguiram o feito de fortalecer ainda mais aquele que tanto repudiam.
De uma só tacada, confirmaram a tese de que a democracia vinha, sim, sofrendo ameaças reais no Brasil - não era apenas "papo de esquerdista", afinal. Com os estragos, os furtos, o desrespeito, a sujeira, a violência, derrubaram o discurso até então predominante de que as manifestações de descontentamento pela derrota eleitoral eram “pacíficas” e "ordeiras". De quebra, ainda forneceram farto volume de provas para alimentar inquéritos no STF, inclusive o processo envolvendo as fake news.
Não foi a esquerda, não foi o PT, não foi o comunismo, não foi Lula. Quem fez tudo isso foi o próprio bolsonarismo. Muitos reclamam, com razão, de que o ato impensado de alguns radicais extremistas virou pretexto para que todos os eleitores de Bolsonaro - golpistas ou não - sejam jogados na vala comum dos traidores da pátria. É verdade que a maioria não estava em Brasília e não participou do triste espetáculo, mas o estrago foi feito. E que estrago.