Os escombros deixados pelo ataque aos três poderes não deixam dúvida do tamanho da conta moral e política que seus protagonistas materiais e ideológicos terão de pagar por cruzar a linha entre a civilização e a barbárie, mas também do volume do prejuízo a todos os brasileiros.
Ainda não há um número final sobre o efeito líquido do vandalismo, mas foram destruídos, por exemplo, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), além de muitas áreas do Palácio do Planalto e do Congresso.
Frente a esse cenário, é preciso que todos os brasileiros responsáveis, incluindo todas as entidades empresariais do país, condenem o ataque, para que não dar a impressão de que são coniventes. E, principalmente, para não serem confundidos com os estratos que ajudaram a articular e a financiar os atos. A coluna soube que, em alguns casos de entidades que publicaram notas de repúdio, houve divergências internas de quem considerou "precipitada" a condenação de violência gratuita.
Desde a tarde de domingo (8), começaram a surgir notas em que entidades empresariais condenam esse ataque à democracia por meio da destruição de seus símbolos, as sedes dos três Poderes. Uma das primeiras foi da CNI:
"A Confederação Nacional da Indústria (CNI) é veementemente contra todo e qualquer tipo de manifestação antidemocrática. Os responsáveis pelos atos terroristas devem ser punidos na forma da lei de maneira exemplar".
Também no domingo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou que "a resposta de repúdio da sociedade tem de ser contundente, apoiando a aplicação mais severa dos termos da lei aos agressores da democracia e da civilização".
Já quase no final da manhã desta segunda-feira (9), a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), vinculada à CNI, emitiu nota com o título "Democracia não admite invasões", em que afirma:
"A Fiergs repudia com veemência as invasões dos prédios dos três Poderes da República ocorridas, ontem, no Distrito Federal."
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) publicou nota em que "repudia com veemência as agressões ao patrimônio público nacional e a violência contra as instituições que representam o Estado Democrático de Direito" e afirmando que "exigem firme reação do Estado".
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) manifestou seu "mais profundo repúdio aos atos antidemocráticos" e reafirmou seu "compromisso com os valores do Estado Democrático de Direito", afirmando que "confia na apuração e punição dos responsáveis pelos crimes praticados contra a decisão manifesta nas urnas pela sociedade brasileira".
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) também afirmou que "repudia veementemente os atos deste domingo (8) que atacaram a nossa democracia e vandalizaram nosso patrimônio público".
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) também publicou nota em que "repudia as invasões e os ataques criminosos contra símbolos dos Três Poderes ocorridos ontem, 8 de janeiro, em Brasília. Quaisquer atos que atentem contra a democracia e o patrimônio público exigem repressão inconteste, com investigação e responsabilização das pessoas envolvidas".
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) "repudia publicamente os atos de vandalismo praticados neste domingo", e os classifica como "atos que afrontam o Estado Democrático de Direito, atrapalham o desenvolvimento econômico do Brasil (destaque da coluna) e trazem prejuízos a toda a sociedade brasileira".
A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) "repudia veementemente as invasões e os atos antidemocráticos ocorridos ontem" e afirma que "a liberdade democrática de manifestação não pode ser confundida com a possibilidade de vandalismo dos bens públicos e o uso de violência".
A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), "conclama todas as partes para assumirem suas responsabilidades, do governo e da oposição, da sociedade civil, empresários e todas as lideranças políticas, para que haja uma rápida retomada da normalidade institucional e democrática".
A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), que foi muito próxima do ex-presidente, repudiou "os atos de vandalismo e de agressão realizados na sede dos Três Poderes" e reiterou que "sempre defendeu e defenderá a liberdade de expressão e o direito à manifestação de todo e qualquer indivíduo, desde que praticados de forma pacífica e democrática". Acrescentou que "ações hostis, como as que se viram, precisam ser investigadas, julgadas e punidas, seguindo o rito legal e as normas constitucionais, que devem ser cumpridas por todos nós, cidadãos brasileiros, sem qualquer distinção".
Reafirmamos o nosso compromisso com a legalidade e a democracia. Prestamos solidariedade aos profissionais de imprensa, servidores e agentes da segurança pública que foram agredidos no cumprimento de seu dever e atividade.
No início da noite, chegou a nota do Sebrae nacional, que "repudia os atos de afronta e violência" e "reafirma a necessidade de respeito às instituições como base para a construção de um país próspero, democrático e justo".
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), titulou sua nota com a frase "é hora de apaziguar o país" e afirmou que "o debate jamais pode sair do campo das ideias e partir para a violência e depredação do patrimônio público, afrontando a Constituição".
A coluna segue atualizando a lista na terça-feira (10):
"A Feninfra (Federação Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática) repudia os atos de vandalismo, depredação do patrimônio público e invasão das sedes dos Três Poderes, no Distrito Federal. Atos como esses são muito danosos à democracia, ao País, à economia e à imagem internacional do Brasil. São ações criminosas, que desrespeitam a Constituição, as instituições e o Estado de Direito. A entidade, como representante de um setor integrante da cadeia de valores da transmissão de dados, informações e mídias, defende o direito à livre manifestação e pensamento e atos pacíficos e cívicos, mas ações violentas não podem ser toleradas. Os fatos precisam ser devidamente apurados e os responsáveis responsabilizados na forma da lei. O Brasil é muito maior e mais forte do que a minoria irresponsável que invadiu a Praça dos Três Poderes."
E até Luciano Hang, da rede de lojas Havan, investigado por financiar a disseminação de desinformação e incentivo a atos antidemocráticos, quis se dissociar da barbárie:
"Jamais apoiei ou apoiaria atos de violência e vandalismo. Não doei, não participei e não incentivei nenhum tipo de ato contra a democracia, tampouco contra prédios públicos. Embora minhas redes sociais estejam bloqueadas no Brasil, no dia 1º de novembro já havia publicado uma nota esclarecendo que não estava participando ou apoiando qualquer manifestação. Repudio tudo o que foi feito no domingo, até mesmo porque o que aconteceu vai contra tudo o que eu luto. Não podemos aceitar o que foi feito, é preciso que os culpados sejam identificados e punidos dentro da lei".
E agora avança nas manifestações de quarta-feira (11)
A Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul) afirma: "Lastimamos e repudiamos a violência ocorrida no seio das manifestações em Brasília, envolvendo tentativas de linchamentos de policiais em serviço, depredações de patrimônio público, invasões de prédios dos três poderes, bem como ataques à democracia porque acreditamos no Estado Democrático de Direito". Mas ao comentar o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, observa que "cada vez mais pessoas percebem que os direitos vêm sofrendo restrições", o que considera "perigoso".