A dupla desistência do que seria o novo comando da Petrobras e a rejeição de outros convidados para os cargos — ao menos uma é conhecida, a do gaúcho Décio Oddone — fez surgir especulações sobre o adiamento da assembleia-geral que definiria os novos rumos da estatal, marcada para a próxima quarta-feira (13).
Responsável pela indicação, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou nesta quarta-feira (6) que a assembleia está mantida, mas no mercado e no segmento de petróleo, uma pergunta domina a indefinição: quem vai querer ser o próximo Silva e Luna?
A dúvida é focada no general Joaquim Silva e Luna, que foi escolhido por Jair Bolsonaro para o cargo, depois que o presidente exigiu a cabeça do indicado do ministro da Economia, Paulo Guedes, Roberto Castello Branco, e fritado pelo responsável por sua indicação. Ambos passaram sem susto — no caso do general, foi levantada a falta de experiência no segmento de petróleo, depois relativizada — pelo rigoroso processo de levantamento de antecedentes, o agora famoso "background checking".
À jornalista Ana Flor, do G1, Albuquerque disse que não pode "ficar empurrando a situação" e que não trabalha "com outra ideia" sobre a data da assembleia. Mas não tem uma tarefa simples na mão. Executivos de mercados hesitam ao encarar a hipótese de submissão ao levantamento de antecedentes, que pode desgastar sua imagem, e especialmente, diante da alta probabilidade de que, ao serem aprovados e comandar a estatal tal como definem as regras, virar algo da frigideira presidencial. Tudo isso para apenas oito meses garantidos no cargo — pode ser mais, mas depende da eleição.
A dificuldade é ainda maior porque é preciso escolher dois nomes, o do presidente-executivo da Petrobras e o do presidente do conselho de administração. No mercado, há mais atenção para o segundo, porque é quem teria caneta para liderar uma eventual mudança na Política de Paridade de Importação (PPI), a fórmula de reajuste de preços que tanto incomoda Bolsonaro.
Até um nome que voltou a circular como "favorito" nas indicações para a presidência-executiva, o do secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade — em tese imune a conflitos de interesse como os que derrubaram Rodolfo Landim e Adriano Pires — já começa a experimentar os efeitos colaterais da exposição. Nesta quarta-feira (6), o jornal Folha de S.Paulo já levantou um processo judicial que envolve Paes de Andrade (leia aqui).
Como será o processo de mudança na Petrobras
O Ministério de Minas e Energia tem de enviar à Petrobras uma nova lista de indicados com a inclusão dos nomes dos candidatos à presidência do conselho de administração e à presidência-executiva da empresa.
O passo seguinte seria a aprovação dessas e das demais indicações ao conselho na assembleia-geral marcada para o dia 13. Além dos sete nomes escolhidos pelo governo federal, há três eleitos pelos acionistas minoritários e um pelos empregados da estatal.
Depois da assembleia-geral de acionistas, a direção executiva é analisada em reunião do novo conselho de administração. Só então o novo presidente toma posse. Na mudança anterior, Roberto Castello Branco chegou a dar entrevista ainda no cargo, aguardando a substituição.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.