Na sexta-feira, quando a bolsa chegou a cair 4,5% e o dólar encostou em R$ 5,751, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, contiveram a turbulência pontual, mas contrataram mudança de cenário no médio prazo.
Nesta segunda-feira (25), o mercado apresentou o cenário, com rombo no teto de gastos oficializado: pela primeira vez desde que surgiram as primeiras projeções acima de 5% para o PIB deste ano, a média das estimativas do boletim Focus do Banco Central caiu abaixo desse patamar: 4,97%.
Para lembrar, o boletim Focus é elaborado com base nas projeções feitas por uma centena de bancos e instituições financeiras. E o rombo no teto significa, na prática, aumento do endividamento público no Brasil. Daí vêm as mudanças de cenário.
Como já se previa ainda sem base estatística, a estimativa para a taxa Selic no final do ano deu um salto de 0,5 ponto percentual, de 8,25% para 8,75%. Isso significa que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) desta quarta-feira (27) já está pressionada para uma elevação maior do que anteriormente prevista, de 1 ponto percentual.
Com juro básico atual em 6,25%, faltam 2,5 pontos para chegar à projeção mediana (mais frequente) do mercado. Como faltam apenas duas reuniões do Copom para fechar o ano — uma nesta semana, outra nos dias 7 e 8 de dezembro —, a conta passou a ser duas altas sucessivas de 1,25 ponto percentual.
O salto na estimativa para a Selic se explica por outras duas mudanças: a do câmbio, que aumentou de R$ 5,24 para R$ 5,45, e a da inflação teve novo avanço projetado, de 8,69% para 8,96%. Parte das mudanças nas projeções já estava "contratada" — a da inflação sobe há 29 semanas —, com os pesados reajustes nas contas de luz e nos combustíveis, mas outra parte decorre diretamente do rombo no teto de gastos.