Depois da terceira debandada de auxiliares do primeiro time do Ministério da Economia, Paulo Guedes está isolado tanto dentro da própria pasta quanto na Esplanada.
Na noite de quinta-feira (21), esse desgaste fez o presidente Jair Bolsonaro a repetir, pela enésima vez, que segue consultando seu "Posto Ipiranga", mas o discurso soa vazio. Nesta semana, ficou claro que quem toma decisões, inclusive as econômicas, é o centrão.
— Paulo Guedes continua no governo, e o governo segue com a política de reformas. Defendemos as reformas, que estão andando no Congresso Nacional, esse é o objetivo — disse Bolsonaro à CNN.
Enquanto o presidente discursava sobre "reformas", a comissão especial da Câmara que avalia a PEC dos Precatórios aprovava uma bem específica: a construção de uma espécie de palafita no teto de gastos, ou seja, um "puxadinho" para cima.
É a capitulação final de Guedes ao governo Bolsonaro/centrão: preserva as emendas parlamentares, não corta despesas desnecessárias e garante medidas eleitoreiras, como o lançamento do Auxílio Brasil e o "vale-caminhoneiro" — que pegou mal na categoria —ambos de R$ 400.
Além da pedalada no pagamento de dívidas da União que passaram por todas as instâncias da Justiça, foi mudada a regra de correção do teto de gastos. Em vez de ser corrigido pela inflação dos 12 meses terminados em junho de cada ano, o volume de despesas será reajustado pela inflação cheia de 2021 - que será elevada exatamente por essa decisão.
A mudança na correção do teto de gastos deve elevar o total de despesas permitidas em 2022 em R$ 39 bilhões em relação ao previsto originalmente, conforme estimativa do relator da PEC, Hugo Motta (MDB-PB). Outra parte da "folga" no orçamento para o ano eleitoral vem da pedalada dos precatórios. Do total de R$ 89,1 bilhões que a União deveria pagar em 2022, seriam honrados apenas R$ 39,4 bilhões. Os R$ 49,7 bilhões restantes seriam pagos nos próximos anos, acumulando despesas de juros e correção monetária. Ou seja, mais despesa espetada para o futuro.
A reação do mercado financeiro é a esperada: o dólar vai a R$ 5,67 - a cotação máxima em 12 meses é de R$ 5,797, em 9 de março -, e a bolsa cai 1,6%. É reflexo das regra ditadas pelo centrão: a inflação vai subir, corroendo boa parte do Auxílio Brasil, e todos pagarão ainda mais caro por crédito, porque o Banco Central terá de acelerar a alta do juro básico.