O episódio de ramsonware ("sequestro" de sistemas com pedido de resgate) no Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) voltou a chamar atenção à natureza ainda indefinida da principal moeda virtual do planeta, o bitcoin.
Entre o final de 2020 e o início deste ano, a primeira das criptomoedas, que já foi mais identificada com a bandidagem (lavagem de dinheiro, tráfico de armas e de drogas) tentava avançar no caminho da institucionalização.
Uma das características da moeda, o fato de sua posse ser anônima, fez com nascesse em clima de desconfiança. Financiou muitas transações ilícitas e foi até protagonista involuntária de golpes como o da Indeal, que simulava aplicação em criptomoedas mas na verdade operada um esquema de pirâmide financeira.
Mas na virada da década, passou ser considerado um ativo alternativo e virou moeda de troca de negócios nos caminhos tradicionais da economia. A Tesla de Elon Musk, que havia comprado US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 8 bilhões) em bitcoins em janeiro, comunicou nesta semana que vendeu parte dessa fatia com lucro de US$ 100 milhões (cerca de R$ 535 milhões). No início do ano, a Mastercard também anunciou que integraria o bitcoin a sua rede de pagamentos ainda em 2021.
Como permanecem sem regulação na maior parte do mundo, as criptomoedas ainda são fáceis de obter de forma ilícita, por não serem rastreáveis. Além do bitcoin, já existe mais de uma centena de denominações. Mais do que crimes ainda considerados "de varejo" como o que envolve o pedido de resgate para devolver o acesso a dados da Justiça gaúcha, operações de "atacado" como a da Telsa também são consideradas ilegais, por configurar especulação.
O bitcoin segue subindo sem parar: ultrapassou o marco US$ 50 mil por unidade, chegou a passar de US$ 60 mil neste mês, e nesta sexta-feira (30) vale US$ 56 mil, ou inacreditáveis R$ 300 mil. Representantes da SEC, encarregada de vigiar o mercado de capitais nos Estados Unidos avaliam que é preciso criar normas para o uso de moedas virtuais. A China já criou seu cyber yuan, e até o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), anunciou que estuda um dólar virtual.