O sistema informatizado do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) segue sob ataque cibernético que começou na madrugada da quarta-feira (28). Os dados do Poder Judiciário estão aprisionados por um sistema que emite, de tempo em tempo, a mensagem de que bitcoins devem ser pagos em troca da liberação das informações. Apesar disso, integrantes da Justiça não acreditam que o objetivo dos criminosos seja econômico, já que esse tipo de mensagem pode ser automático em invasões com esse perfil.
Já são mais de 48 horas com os dados parados e, nesse período, não houve avanço em negociações, como pedido de depósito de dinheiro, por exemplo. Esses resgates são mais comuns em ataques contra empresas privadas e não contra órgãos públicos.
— Ainda que fosse essa a meta, nós jamais pagaríamos — atesta o desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, presidente do Conselho de Comunicação do TJ.
Com a motivação financeira enfraquecida, membros da Justiça avaliam outras possibilidades para o cometimento do crime, entre elas, retaliação política, interesse de facções criminosas gaúchas, demonstração de poder pela captura de dados pessoais de membros da Justiça e até tentativa de descoberta de informações como diálogos de juízes e desembargadores.
Técnicos da segurança de informática da corte estão trabalhando 24 horas para tentar manter dados em segurança e recuperar o controle. Já houve casos de estresse extremo, com servidor precisando atendimento médico. As atividades da Justiça, na modalidade regular, por sistemas informatizados, está toda suspensa. A orientação ainda é de proibição de acesso pelos funcionários.
Entre as motivações, a que envolveria interesses de facções também não tem se confirmado. Havia audiências de criminosos marcadas para a semana, mas são casos rotineiros. Além disso, juízes avaliam que audiências são medidas benéficas a acusados, que têm a chance de manifestar suas defesas. Transferências para fora do Estado, que são situações mais delicadas e que movimentam líderes dos grupos criminosos não estariam previstas para este período.
A apropriação de dados pessoais e de trabalho (de processos, pedidos sigilosos, por exemplo) de integrantes do Judiciário é uma possibilidade. Já foi confirmado, por exemplo, que servidores tiveram informações de contas bancárias e de declarações de imposto de renda capturadas.
O caso segue sob investigação interna do TJ, com apoio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos e de Defraudações da Polícia Civil também vai atuar no episódio. Na noite da quinta-feira (29), o Ministério Público anunciou que um da Promotoria Especializada Criminal foi designado para acompanhar as investigações da polícia.