Após o ataque hacker sofrido pelo Judiciário gaúcho, tive uma longa conversa com um desembargador. Ele atua na área criminal e concordou em falar, desde que seu nome não seja exposto. É compreensível. O cenário que descreve é de caos. Alguns pontos ressaltados pelo magistrado:
- Para o cidadão comum e para os advogados, nada está em funcionamento. O site do Tribunal de Justiça não deixa abrir o processo pelo número Themis (uma das formas). Alguns juízes têm conseguido, com malabarismos de Tecnologia da Informação (TI), olhar as ações via Eproc (sistema oficial de processos eletrônicos) pelo número do CNJ. Na maioria dos casos, só conseguem visualizar processos com menos de dois anos de existência.
- Estão suspensos os julgamentos de processos, porque não há como alimentar o sistema. Não há como abrir novas ações, no momento.
- O plantão judiciário voltou “à Idade da Pedra”, descreve o desembargador. Está funcionando como era até os anos 80 do século 20. "Os juízes plantonistas estão usando o computador como uma máquina de escrever. Redigem a decisão e imprimem, mandando para o oficial de justiça ou para o promotor ou policial que a requisitou. Mandam prender e mandam soltar. Mas não alimentam o processo regular, só agem por emergência", relata o magistrado.
- O juiz até faz audiências, mas depois a transcrição não está sendo levada aos autos, porque o sistema não está sendo alimentado. Há temor em jogar dados no computador, que possam ser corrompidos.
- Há descrição de casos de invasão de contas bancárias e e-mails pessoais de funcionários, que estão sob investigação.
- Os e-mails estão funcionando. Só eles.
- Há uma perspectiva de volta ao funcionamento, mas nenhuma data certa. Enquanto isso, tudo empacado.
Seja o ataque hacker vingança contra decisões judiciais que retardavam a volta às aulas (maior suspeita até agora), seja ataque do crime organizado (vários gerentes do tráfico estavam em julgamento esta semana), o fato é que funcionou. Mas não há mal que sempre perdure. A Justiça voltará a atuar. E, podem apostar, alguns dos alvos prioritários serão os nerds que atrapalharam seu funcionamento.