Primeiro, foi o recorde de alta em 2020. Depois, a disparada com a aposta bilionária da Tesla, que anunciou a compra de US$ 1,5 bilhão em bitcoins.
Nesta terça-feira (16) de retomada de vários mercados mundiais depois de feriados prolongados, a primeira criptomoeda atingiu cotação recorde de US$ 50 mil ao dobrar de valor em apenas dois meses.
O simbolismo do valor entusiasmou os defensores das moedas digitais e reforçou as cautelas de quem teme a explosão de uma bolha. Ainda antes de tocar nessa barreira psicológica, o bitcoin espalhava inquietações. O economista-chefe do Bank of America, Michael Hartnett, chegou a cunhar a expressão "mãe de todas as bolhas".
Para sustentar o epíteto ameaçador, argumentou que nos últimos dois anos o bitcoin acumula alta de cerca de 1.000%, muito acima dos os ganhos de outros ativos. A disparada corresponde a mais que o dobro da "bolha do ouro" do final dos anos 1970, de 400%, e é superior à valorização das ações japonesas no final dos anos 1980, à do mercado de ações da Tailândia em meados dos 1990 e à os preços das casas em meados dos 2000. Todos tiveram ganhos percentuais de três dígitos antes de desabar, como alguns de nós ainda se lembram.
O problema potencial agora seria maior, porque já existem US$ 940 bilhões em bitcoins circulando pelo mundo. Ou seja, se de fato houver uma bolha prestes a explodir, o impacto será mais grave do que em outros momentos de forte oscilação da cotação da criptomoeda, que agora também está mais absorvida no sistema tradicional.
Além do anúncio da compra da Tesla – outra empresa sobre a qual se discute se há uma bolha, dada a valorização recente que fez seu dono, Elon Musk, superar Jeff Bezos como homem mais rico do mundo no ranking Bloomberg Billionaires Index – grandes bancos passaram a considerar a moeda virtual um ativo financeiro "normal" e a Mastercard anunciou que vai integrar o bitcoin a sua rede de pagamentos ainda neste ano. Por outro lado, a forte variação de valor, muito acima da volatilidade já "normalizada" dos ativos nos últimos anos, e a dificuldade de uso prático ainda são limitadores do bitcoin.
Para lembrar, a criptomoeda é gerada por um processo conhecido como mineração: supercomputadores resolvem problemas matemáticos complexos e ganham direito à cunhagem virtual. O processo gasta quantidades industriais de energia. Um de seus mais constantes críticos, Nouriel Roubini, famoso por ter advertido para o último grande estouro de bolha, o da imobiliária que provocou a crise de 2008, fixou um tuíte em que reproduz trecho de um artigo que escreveu para o Financial Times:
– Bitcoin não é uma garantia contra riscos imponderáveis. Elon Musk pode estar comprando, mas isso não significa que todos devem segui-lo. O valor fundamental do bitcoin é negativo dado seu massivo custo ambiental.